Confissões curiosíssimas a querida B.K

Orange tree



Como assim a B.K vai embora?

Eu li a frase "eu pedi demissão" 3 vezes, mas minha mente continuava mandando meus olhos se certificarem mais uma vez, mais uma vez, mais uma vez.... e curioso que sou, fiquei muito intrigado, afinal porque minha mente tão sadia insistia em não entender aquela frase tão simples? "muito curiosíssimo" como diria Alice quando chegava no país das maravilhas.

A conversa desenrolava, e agora ela(a mente), sem me avisar, começou a atrasar os comandos para os dedos, "que coisa estranha" eu pensei, enquanto achava quase engraçado sentir a habilidade de digitar diminuir com o tempo.

Como se não bastasse as "coisas estranhas" que meu corpo apresentava, tive a impressão do ambiente todo ter mudado. A gravidade por exemplo, outrora tão disciplinada e reconhecida por sua constância, parece que ficou agitada e começou a pressionar tudo mais forte para si, digo "para si" porque não sentia que o vetor estava apontado para o chão, era todo o meu corpo agora que sentia uma pressão maior sobre si mesmo, e ainda por cima o ar ficara rarefeito, como se estivesse chegando no cume do monte mais alto do planeta.

Mas, se a gente se afasta do centro do planeta a gravidade não deveria sutilmente diminuir? que sentido faria eu sofrer essas duas consequências do ambiente se elas eram inversamente proporcionais? muito curiosíssimo.

Já tínhamos gastados muitas teclas, daí minha mente sai do volante e deixa sentar novamente no controle para que eu possa ler: "vou mandar áudio", "UFA" eu pensei, afinal meus dedos nitidamente precisavam de uma manutenção, e quando a nova linha do comunicação começou, outra surpresa, a garganta e as cordas vocais parecem que sofriam do mesmo mal dos dedos, que curioso!

A garganta insistia em ficar seca, mesmo eu produzindo e tomando todos aqueles goles de saliva. E como se não fosse o bastante, minha visão embaçou como se tivessem soprado vapor no meu rosto, limpei o óculos só para certificar, porque sabia que agora era o olho que sofria do mesmo mal que seus parentes.

Depois daquela longa sessão de pensamentos, elogios, lembranças e recomendações trocadas, estava na hora de encerrar a proza. E foi aí que todos os outros problemas se atenuaram mais ainda. Sentado com cabeça virada para cima, fiquei tão curioso, que não movi um músculo, e deixei toda aquela sensação me percorrer diversas vezes, de cima a baixo.

Sendo quem sou, fiquei ali refletindo quando tudo aquilo tinha começado, e porque ao mesmo tempo que eu achava não fazer sentido, eu tinha a certeza que havia uma razão que desencadeou todo aquele fenômeno.

Daí me veio um estalo, sai depressa da sala dela que aparentemente não explicava o porque daquela bagunça no meu corpo, e corri direto para o quarto do coração.

A medida que desci as escadas, sentia que algo de errado estava ocorrendo por ali. Cheguei ofegante, e olhei pela janela e vi que tinha mais alguém lá dentro, e naquela hora fiquei bravo, esbravejei com migo mesmo: "Como assim alguém entrou aqui?" afinal com a idade que tenho, com a família que tenho, já não é comum eu receber muitos visitantes ali.

Mas o que me incomodou na verdade não foi receber um visitante , afinal meu quarto é grande, e estaria mentindo se dissesse que não gostava de receber ilustres convidados no meu quarto, meu incômodo mesmo, foi ter a sensação que eu não estava no controle, afinal essa pessoa já estava lá dentro, eu não abri a porta!

Então eu entrei fumegando de porta a dentro, porque provavelmente teria encontrado a causa de toda aquela "pane" que me havia ocorrido. Mas ao olhar para aquela pessoa, me deparei na verdade com você querida B.K.

Me desarmei, e me sentei.

A pane no sistema continuava como nunca, mesmo depois de ter lhe encontrado aqui no quarto, mas agora era diferente, eu só me importava em lhe admirar ali, tão serena, tão meiga, e com um sorriso encantador.

Depois de me acalmar, a serenidade me encontrou novamente e a embriaguez foi embora, e agora a pane diminuíra, mas o motor do quarto que antes trabalhava compassadamente, agora parecia que absolvera pra si toda a pane dos seus parentes, mas tudo bem, tudo estava claro agora. Lembrei que nunca houve violência as fechaduras, aliás lembrei que fui eu mesmo que a trouxe pelas mãos pra lá, e fiquei aliviado em me dar conta disso.

Querida B.K, você nunca foi de falar muito, mas constatei que seus ouvidos sinceros foram os culpados disso tudo, afinal foram eles que me seduziram, eles que deram atenção de mais para mim, e agora estávamos aqui, sentados no meu quarto, e toda aquela bagunça em mim acontecendo.

Mas eu fiquei tão feliz com isso tudo, afinal tinha desvendado todo o mistério, e a respeito da bagunça, sabia que o tempo colocaria tudo no lugar, como sempre ele faz. Fiquei feliz porque casa bagunçada, é sinal de vida, é sinal que bem ou mal algo acontece ali, porque não a nada mais desanimador que uma casa estéril, quieta, inerte.

Então queria lhe agradecer querida B.K, por bagunçar minha casa e me fazer sentir tão vivo, como a muito tempo eu não me sentia.

Eu agora continuo ajudando o senhor tempo a arrumar a bagunça, procuro pelo menos não atrapalha-lo na arrumação. Mas me recuso a lhe pedir pra sair, afinal você me faz muito bem. Vez ou outro passo pelo quarto e olho pela janela, e fico feliz de lhe ver ali. Sei que uma hora, provavelmente o senhor tempo vai acabar lhe encontrando aqui no quarto, mas mesmo que eu ainda não posso tê-la aqui por completa, um retrato seu sempre estará com migo, e esse nem o senhor tempo vou deixar pegar!

Depois de uns dias, recebi o relatório lá de cima da sala, tem uma lista enorme dos detalhes dos panes, das falhas..., mas o interessante foi ver no e no final da página escrito em negrito: #ERROR_CAUSAL: AMOR.

 

 

 

  • Autor: Orange tree (Offline Offline)
  • Publicado: 11 de junho de 2021 01:14
  • Comentário do autor sobre o poema: Escrevi apenas para externar toda a bagunça que a querida B.K deixou por aqui quando foi embora. A prosa é apenas para descrever a surpresa de descobrir um visitante novo no quarto do coração, que aparentemente chegou de forma inesperada. Transcreve metaforicamente o relato dos sentimentos que me acometeram após a partida, resultado de uma história que começou com curiosidade e desejo, se tornou amizade, depois por um breve momento queimou numa paixão (que inspirou essa prosa), e agora assentando num sentimento de amor, de uma saudosa amizade tão marcante e especial.
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 14
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Comentários1

  • Maria dorta

    Amei tua prosa poética e cheguei até a ficar curiosa( e invejosa!) desta B.K! Um relato singular,de um fato amoroso que ,sem querer,a gente acaba sentindo no percurso da vida. E como apaixonar_ se nos faz em cinestesia ficar! A gente sai mesmo do ar e as funções corporais entram em pane e só o coração fica aceso demais, dançando um frevo! Aplausos!

    • Orange tree

      Meu Deus, não esperava que um desabafo tão despretensioso recebesse um elogio desses. Muito obrigado Maria, acolherei com carinho suas palavras, e fico feliz de minha prosa além de ter sido compreendida, ter lhe aquecido de alguma forma também. Gratidão.



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