É impressionante como os dias de domingo sempre nascem com a capacidade de nos transportar a várias recordações e sentimentos tão nossos. Domingo tem forma de poesia, tem cheiro e tem um jeito todo especial de nos tocar.
E neste domingo, em especial, o coração amanheceu ainda mais saudoso.
Desde cedo somos apresentados ao amor, em suas mais diversas personalidades no meio familiar, mas temos em nossos avós um sentimento único, que extrapola qualquer forma de expressão. Os avós transbordam um amor genuíno em cada sútil toque e palavra, nos pequenos gestos, sempre cheios de aconchego, proteção e carinho.
Neste exato momento, minha memória foi tomada com imagens das casas dos meus avós. Mas antes de escrever este texto resolvi preparar um café. Na cozinha, já com olhos marejados, parei um “infinito”, naqueles minutos enquanto o cheiro do café tomava conta de todo o apartamento e das minhas lembranças.
Minha infância tem este cheirinho de café. Lembro que nossas tardes de domingo sempre eram marcadas por este momento em volta da mesa. Toda família reunida, Vovó fazendo o café coado em pano, enquanto Vovô tirava do armário as dezenas de canecas dos netos: cada neto tinha sua caneca de alumínio gravada com o nome. E não podíamos levá-las para nossas casas, elas permaneciam ali, sempre naquele mesmo cantinho do armário, esperando nosso retorno no final de semana seguinte.
O tempo passou... Os netos cresceram e os cafés das tardes de domingo com todos reunidos ficaram cada vez mais raros. Mas as nossas canecas nunca saíram do armário. Meus avós sempre esperam nossa chegada, com os braços abertos e dispostos a fazer uma mesa cheia de bolos, pães, doces e aquele delicioso e único café.
Minha memória guarda uma imagem ainda mais poética dos meus avós: no portão da casa, esperando cada neto passar para o momento da despedida:
“Benção Vó”!
“Benção Vô”!
E um beijo na testa marcava o final do nosso dia de domingo.
É nesta imagem tão linda que me preencho de amor a cada gole de café agora.
A verdade é que a vida seria ainda mais bonita se aos nossos avós fossem permitidos a eternidade.
Saudades...
Dedico a Vó Olivia, Vó Lourdes (em memória), Vô João (em memória) e Vô Severino (em memória)
- Autor: Kermerson Dias (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 30 de maio de 2021 13:23
- Categoria: Família
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Comentários2
Muito lindo, levou me a emoção a tua poesia. Parabéns Emerson Dias.
Quanto amor contido nesta belíssima expressão poética. Esta prosa poética tocou-me no intimo, quantas lembranças...Gratidão nobre poeta.
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