Simplesmente: estrela

Não sei dizer o que sou, com quem pareço, penso em te falar mas não consigo explicar meus sentimentos. De que serve a minha vida, pois sem saber o que és, não sei o que sou, para onde ir ou onde vou?
Este céu nublado deixando tudo confuso e sombrio, carregado de uma chuva que nunca cai. Escrevo sozinha no meu quarto cartas para quem não sabe ler, duvida da minha força, despreza meus cabelos, ri das minhas mãos tremendo de medo. Carrego uma solidão tão profunda, tão minha, que nada teu irá desvendar meu passado, presente e futuro. O vazio do quarto ao lado, é tão vazio quanto tudo dentro de mim, mas eu amo tanto a vida, que talvez esse vazio me preencha de ilusões de amor romântico à minha espera. Teu deboche único me fere como flecha no coração de fera, debulho em lágrimas sem ser flor. Queria saber se a felicidade é doce como dizem, talvez pudesse provar pelo menos do amargo de um amor sofrido, mas tudo o que provo tem gosto de água, sacia por ora e depois tenho que beber mais.

Senti o cheiro do amor banhando os meus sonhos, a rádio embalou com canções de cantores mortos pela vida. Meu sorriso foi embora ao me acordar e ver que o dia nasceu e nada mudou. Encontrei você no parque e o que tu me dissestes foi raio que me apartou a alma, a alma de uma estrela. Eu brilharei em todos os cantos, por caminhos que não trilhei, amores que não vivi, saberes que não terei, dúvidas que não tive. Por vezes senti raiva de você, mas cruzei ao céu deixando meu rastro de luz no teu coração.
Olha para o céu, e veja: a simplicidade brilhar como uma estrela.

— Luca Vianna

Poema baseado no livro: A Hora da Estrela, Clarice Lispector.