Jessé Ojuara

Carta desabafo


Aviso de ausência de Jessé Ojuara
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Pois é amigo, fico indignado ao ver a indiferença de muitos diante de uma situação tão devastadora, caótica, surreal, infame e até anticristã. Digo isso porquê, tantos tem procuração para falar em nome de Deus e agem de forma tão diferente do que ensinou o  filho do homem.

 

Um país onde alguns poderes fazem o que fazem, o que querem: agridem, transgridem, rasgam a Constituição, ofendem minorias, humilham a nação, vendem a nossa soberania. As autoridades competentes limitam-se a ridículas e  inócuas notas de desagravo. Quando não aprovam a cruel situação: “por atos ou omissões”. O povo está anestesiado, ninguém faz absolutamente nada. 

 

Amigo, eu preferia ter sucumbido, a ter que ver esse circo de horrores.

 

"O que me preocupa não é o grito dos maus, mas sim o silêncio dos bons".

 

Essa frase é atribuída ao Dr. Martin Luther King, e tem valor inquestionável, porque, de fato, é sob o silêncio apático e cúmplice dos "decentes", que crimes horrendos são praticados: holocausto, guerras genocidas, escravidão, ditaduras militares, concentração de renda, perseguição de minorias, racismo, fome e miséria em países subdesenvolvidos e em  desenvolvimento como o nosso, etc.

 

Outro texto que atribuem autoria a Maiakovski ou a Brecht, e alguns afirmam ser de um Pastor que  era simpatizante do nazismo e ao mudar de opinião foi levado para um campo de concentração diz:

 

“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar”.

 

Precisamos sair da frente da TV. Ver novelas, futebol, BBB, pode até distrair a mente, colorir as mazelas cruéis, mitigar nossa dor, medo, abrandar nossa consciência, etc. Mas também aliena, e desvia nossa atenção da tragédia humanitária que o mundo e em especial nosso Brasil está vivendo.

 

Precisamos acordar desse sonho midiático, que na realidade é um terrível pesadelo. 

 

Levantemo-nos do berço esplêndido e vamos a luta, gritando bem alto, a uma só voz:

 

CHEGA DE TANTAS MORTES.

BASTA DE TANTO DESCASO E INCOMPETÊNCIA.

NÃO AGUENTAMOS MAIS. 

 

Vemos na TV, e às vezes ficamos indiferentes, o grito dos miseráveis:

 

"QUEREMOS SOLUÇÃO".

"QUEREMOS SOLUÇÃO".

 

Sempre reclamam, com o repetido mantra, quando as "imprevistas chuvas" destroem suas casas e tudo que tinham. Sob a total, perversa e cíclica indiferença das autoridades e nossa também.

 

Então os convido, a um empático desafio: vamos calçar o sapato dos miseráveis e adotar o mesmo mantra, atualizando-o: 

 

"QUEREMOS SOLUÇÃO".

"QUEREMOS SOLUÇÃO".

 

JÁ MORRERAM 400 MIL, VÃO MORRER MAIS DE  UM MILHÃO

 

"QUEREMOS SOLUÇÃO".

"QUEREMOS SOLUÇÃO".

 

JÁ MORRERAM 400 MIL, VAO MORRER MAIS DE  UM MILHÃO.

 

Agora, mais do que apenas protestar, vamos  também tomar atitudes mais efetivas. Porque está patente que só protestar não basta. COMO?: voto consciente, seguir seu candidato, cobrar as promessas de campanhas, protestar nas redes sociais, que tem mais amplitude e pode inclusive romper fronteiras, ler e se informar, questionar fake news, compartilhar só notícias checadas, etc.

 

Ou vamos continuar parados, eu e você, inertes, passivos, bons e decentes, rezando no templo ou vendo televisão. Literalmente: “sentados no trono do apartamento, esperando a morte chegar”. 

 

Precisamos decidir. Para quem diz odiar a política, esclareço que,  ser omisso, é um dos piores atos políticos. Todos os atos sociais são atos políticos. Então, sugiro que, pelo menos, escolha não abrir mão de seu dever de contribuir para uma sociedade melhor e mais justa, para você, seus filhos, netos e o país em geral. 

 

Sei que poucos vão se dar ao trabalho de ler ou ouvir esse longo desabafo. Afinal, vivemos na era do twitter, micro comunicação, cultura do cancelamento, pseudo celebridades, sociedade líquida e tantas novas construções engendradas pelo poder dominante. Mas se conseguir, pelo menos, acender uma  pequena centelha, provocar uma dúvida reflexiva, em qualquer mente, já valeu a pena. Porque sei que: nosso povo não tem alma pequena.

 

Temos no nosso sangue o DNA e a ancestralidade do povo africano. 

 

Nossa história é rica em exemplo de mártires, heróis, mitos de verdade, mulheres e homens de valor, negros, brancos, mestiços e índios: Zumbi, Aqualtune, Ganga Zumba,  Dandara, Maria Firmina, Tereza de Benguela, Anita Garibaldi, Ana Neri, Maria Quitéria, Joana Angélica, Luiza Mahin, Luiz Gama, Sepé Tiaraju, Ajuricaba, Clara Camarão, Araribóia, Tibiriçá, Machado de Assis, Tiradentes,  Nilo Peçanha,  Castro Alves, etc.

 

Na contemporaneidade não podemos esquecer a enorme coragem e contribuição de homens e mulheres, para cultura, sociedade e alguns inclusive deram suas vidas como: Mariele Franco, Mãe Menininha do Gantois, Mãe Olga de Alaketu, Chico Mendes, Juruna, Jorge Amado, Milton Santos, Marighella, Lamarca, Frei Tito, Alceri Maria, Vladimir Herzog, Dom Helder Câmara, Paulo Freire, etc. 

 

Temos muitos exemplos que todos podem e devem de fato seguir. Dando a essa palavra, tão distorcida na atualidade, o seu sentido mais nobre e politicamente correto.  Seguir: o exemplo de heroísmo, patriotismo, dignidade, luta, coragem, garra, Brasilidade, desprendimento, …., etc.

 

Finalizo desculpando-me amigo, pelo longo desabafo e por não dizer bom dia. Afinal os dias não tem sido nada bons, muito pelo contrário. Prefiro dizer boa reflexão e meu sincero desejo que possamos mudar "isso aí".

 

  • Autor: Jessé Ojuara (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 27 de Abril de 2021 18:16
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 30

Comentários5

  • Jessé Ojuara

  • Shmuel

    Parabéns pelo texto. Causou em mim reflexão. Compactuo com suas ideais.
    Abraços!

  • Jucklin Celestino Filho

    Caro Jessé 0juara , um ótimo texto.Desnunda em letras da verdade, a atual situação brasileira: um caos generalizado, uma situação desesperadora de dor, de aflição , de se sentir abandonado, desamparado , como vive o povo deste país.

    Jessé, sua carta é um grito de liberdade, é estar erguendo os braços, rogando misericórdia ao Senhor Deus, para o povo pobre do Brasil, à mercê de uma terrível moléstia, que já vitimou quase quatrocentas mil pessoas. E o que vemos é a incopetencia, a inércia, frente à eficácia mortífera do virus .Estamos perdidos, isso sim, ante um barco a naufragar, e o timoneiro impotente para nos livrar do choque contra os rochedos.

    Meu amigo, que dizer da sua carta-desabafo? Primorosa! Um desabafo, um alerta, uma denúncia aos demandos e pouco caso dos que alardeiam estar o pais livre de corrupção, ,de negociatas, do tama lá , dà cà , das rachadonas e rachadinhas.Ora, estamos assistindo a outro filme, ou isso é um pesadelo?

    Meu caro, o parabenizo , pelo irreparável,
    e irretocável texto.

    Forte abraço.
    Boa noite.

  • Maria dorta

    O Réquiem de Mozart foi mais do que adequado para os estertores mortais que nosso país está vivendo. Seu texto é a música me devolveram até as tripas.
    Somos uma Nação que parece ter se habituado a baixar a cabeça e o espinhaço desde que para cá vieram os primeiros exploradores. Infelizmente,só alguns poucos,como os que mencionastes tiveram a ousadia e a coragem de fazer suas vozes doarem bem alto, denunciando. Pagaram com a própria vida ou foram desprestigiados em vida,no gulag jogados. Há um plano de desconstrução da Nação que passa pela proposital Deseducao do povo. Agora nem temos Educação nem Cultura,muito menos empregos para ganhar um linguado salário apenas para não morrer logo de fome! E com a landemia,tudo se revela com mais realce: a fome,a miséria e a indiferença de quase todos! E nós ,alguns poucos melhor aquinhoados, nos falamos,fazemos poesia...nao temos coragem para liderar o povão....entrega- se a Nação nas mãos de um quase analfabeto, cultor da violência, candidato a Ditador,está escancarada sua ambição! Confesso minha indignação,mas também no há impotência para liderar ações sociais que acordem nosso povo que morre como cordeiros inocentes e alguns ainda aplaudem seus matadores,ou elejem um " mito" , que mal sabe assinar o próprio nome e não tem a hombridade de assumir a incompetência e dizer ME DE MITO! Parabenizo- o e sou solidária com seu grito. Aplausos!

  • Jessé Ojuara

    Amigos suas palavras me honram e incentivam a continuar. Hoje minha arma é minha pena. Meu palanque a poesia. Como disse, se atingir uma única pessoa, já valeu a pena. Sugiro que não se caírem e como portas que são, idem também sua arte como grito de resistência. Não podemos nos calar.

    Muito obrigado



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