Até então mal havia chovido no ano, no entanto, chovia muito nesta tarde de abril. Talvez os milhões de habitantes do céu estejam tristes por nossa despedida, ou talvez só foi uma coincidência a energia do mundo estar tão ruim no dia de hoje.

Sim, eu sei, iremos nos ver novamente e teremos várias semanas de amor, como foi nessa e em muitas outras, mas a incerteza tomou conta de minha alma e o medo é protagonista na minha mente; desde que comecei a colocar minhas roupas na mochila, até agora, enquanto choro dolorosamente em seu ombro. Sempre em silêncio, para que você demore a perceber.

A chuva cessa, mesmo assim pegamos o guarda-chuva por precaução. Nossos gatos se despedem, surpresos, pois não foram avisados, e ficam tristes, pois assim como nós, se sentem melhores juntos.

Enfim saímos, e você me acompanha até o ponto, pois sou medroso demais para ficar na rua sozinho. Talvez você não entenda, mas a sua companhia é a melhor segurança.

O ônibus chega e damos um último abraço. Eu não quero te largar, e sei que você também não quer que eu vá, mas você mal me abraça e se vai, às vezes olha pra trás. Não tem julgo, é claro, você busca evitar a dor, você é forte e sabe que tudo vai ficar bem. Eu, por outro lado, sofro bem antes da saudades chegar.

Entro no ônibus e me sento, observo a rua, o céu e o caos; sinto a dor do mundo em cada batida apertada do meu coração. O vazio que a falta da sua presença deixa, me coloca de volta na realidade, e não consigo mais suportá-la. Sejamos francos, o que eu mais faço é sonhar e pensar, e não é isso que o mundo quer. Estou apavorado, o que mais quero é chegar em casa e só sair quando estiver tudo bem.

A rua é o próprio inferno, se fosse só esse maldito vírus, eu não estaria assim, já me acostumei com os protocolos, mas o que me aterroriza é o ser humano, esse sim eu nunca saberei o que esperar.

Por enquanto viverei com essa lástima, até o momento em que eu possa voltar aos seus braços.