Talvez eu veja algo de estranho no mundo, eu mesma, por exemplo, sou o oposto de mim muitas vezes, bato de frente com meu reflexo, não sou eu, enquanto olho para mim, não sou eu, repito quanto a mim mesma reconheço.

Agora acordo distante do mundo, em um feriado qualquer, acordo e reparo a mim como um membro distante, reparo a mim mesma como reparo o meu pé, sujo e grosseiro.

As coisas são de certa maneira um profundo olhar distante, em reconhecer falhas, mas o que diferencia entre o que se vive e o que se faz, é a maneira que eu escolho tratar desse enorme membro, eu realmente quero limpa-lo e afiná-lo com o mundo?

A resposta para o meu incomodo diário é sim, eu me debruço sobre o meu constante chamar de vida, observo com paciência, o meu sujo e grosseiro eu, lapidar-me é difícil, mas o meu incomodo no espelho é maior.

Decididamente escolhi, decididamente cravei com faca a crosta dura de sujeira que separa o que eu não sei de mim, com o eu.

São tempos difíceis meu caro, são dias mais complicados que o normal, antigamente sabia por fim o deserto estranho que eu enfrentava, agora á flores por onde passo e não sei qual estação floriu, procuro louca, atrás da areia. Acostumei-me ter a vista seca, agora verde em mim há um poço, com cores de lótus.

São tempos difíceis amigo. Quando não se sabe para onde vai, qualquer lugar é o seu destino, a vida te empurra de um precipício, até que tu, tu mesma, acorde e agarre em algum galho.

Ainda há tempo para a salvação desse corpo teu sem nenhuma graça, e a mim, a alma, eu respiro luz, quanto a mim, grito olhando no espelho sabendo que essa não sou eu, apenas crosta grossa da sujeira do corpo que me veste como veste uma armadura de mim.

Faço essa escolha, escrever a cerca de mim mesma, faço por vez ou outra: denunciar-me ao papel as atrocidades que me submeto. Espero que dê jeito essa meu profundo alento, sobre o penar da vida. Eu não me quero ver sempre correndo de mim, sobre o juízo do equilíbrio.

cansei por hoje.