Jessé Ojuara

Viva a democracia


Aviso de ausência de Jessé Ojuara
NO




Acordei hoje assustado,

com um sonho bem atroz.

O céu estava escurecido.

Ouvi o sussurro do algoz,

ensaiando o triste hino,

que sufocou a nossa voz.

 

Desperto me recordei,

de um passado nefasto.

De silêncio e muita dor,

morte, tortura e fausto.

Foram anos de chumbo.

Um período muito vasto.

 

A lembrança que atormenta,

também nos faz relembrar.

Para não repetir os erros,

ou nos deixar ludibriar.

Pelo capeta ardiloso,

que vai tentar nos enganar.

 

Viver o aqui e agora.

É um razoável conselho.

Mas no caso da história,

ela nos dá um espelho.

Que devemos revisar,

pra não cair de joelho.

 

Os atores importantes,

que atuaram nessa trama:

O americano bonzinho,

a mídia que encobriu o drama,

uma igreja muito omissa,

e o militar de pijama.

 

Penso nos nossos heróis.

Tão jovens, lutaram demais.

Lembro das famílias,

sem direito a funerais.

Mais de 434 Brasileiros,

mortos por seus ideais.

 

Maria, Alex, Vladimir,

João, Fernando, Tito,

Ivo, Almir, Marighella,

Lamarca, Antônio, Cleto,

Prates, Zuzu, Crioulo.

Muito pai,  mãe, filho e Neto.

 

No Batismo de sangue,

o Frei Betto relatou,

a história de Frei Tito,

e porquê ele se matou.

Num gesto de coragem,

só assim se libertou.

 

Do torpe, mesquinho e cruel,

carrasco ensandecido.

Que maculava o corpo,

que por Cristo foi ungido.

Criava aparatos vis,

para aumentar o castigo.

 

Lustra a minha suja bota,

e a deixe bem Brilhante.

Beije agora a minha mão.

Ordenou o Bispo arrogante.

Que nada via ou ouvia.

O mal seguia adiante.

 

A arara no pau cantou,

e ainda bebeu tubaína.

Com um choque logo falou,

da águia nordestina.

Que morreu no sudeste.

Chorei sua triste sina.

 

Condenaram Frei Tito.

Com medo e penitência.

Não conseguiram entender,

seu ato de resistência.

Relataram seu heroísmo,

como caso de demência.

 

A igreja se dividiu.

Não defendia ativista.

Mas um pequeno grupo,

chamado de comunista.

Fez muita diferença.

Era a ala progressista.

 

Dom Hélder e Paulo Arms,

honraram sua batina.

Ficaram ao lado do povo,

que amargava triste sina.

Mas Dom Agnelo Rossi,

ficou atrás da cortina.

 

Em seu discurso em Paris,

Dom Hélder diz com lisura.

Quero que vocês saibam,

que no Brasil tem tortura. 

Digo porque amo a pátria,

o povo e sua bravura.

 

Não é a vontade de Deus.

Isso é uma coisa inventada.

Para oprimir e subjugar.

Uma ardilosa cilada.

Se for cristão de verdade,

fuja dessa sujeirada.

 

Mesmo sendo militar:

soldado, cabo ou tenente.

Que segue hierarquia.

Pode ser inteligente.

E não apoiar o golpe,

de um militar demente.

 

Entenda que todo poder,

emana só do povo.

Eu lhe convido a pensar,

quebrar a casca do ovo.

Um engano foi trágico,

vai querer errar de novo?

 

Reconhecemos o valor,

do militar e sua missão.

Está prevista em nossa,

nova constituição.

Quem se insurgir contra ela,

comete ato de traição.

 

Portanto proteja a luta,

da democracia infante.

Que tenta se fortalecer,

e seguir firme adiante.

Mas a força do atraso,

conspira e tem comandante.

 

Por isso, cuidado amigo.

"Há perigo na esquina…"

Eles venceram no passado,

com uma censura cretina.

Hoje temos mais força,

e uma adesão repentina.

 

Surgida no alto escalão.

Uma mudança genuína.

De oficiais patriotas,

que um novo golpe abomina.

Seguem a constituição.

E até a mídia fascina.

 

Então para concluir.

Peço repita o refrão: 

VIVA A DEMOCRACIA,

e a nossa constituição.

E que jamais a tirania,

ressurja do velho porão.

  • Autor: Jessé Ojuara (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 31 de Março de 2021 21:04
  • Categoria: Sociopolítico
  • Visualizações: 23
  • Usuário favorito deste poema: Helio Valim.

Comentários3

  • Maria dorta

    Um voto de louvor por tão belo,verdadeiro e denunciados poema! Quem foi testemunha da triste história da nossa ditadura não pode,não deve " engolir" essa versão vergonhosa de que a ditadura veio nos salvar! Gritamos,não consultamos tomar o mesmo veneno. Seu poema é mais que oportuno. Parabéns duplo!

  • Helio Valim

    Muito bom, Jessé. Perfeito, nada a colocar ou a retirar! Mais que um poema, um intenso cordel retratando, com folego, nossa realidade insana. Parabéns pela estrutura, pelas rimas e pela abordagem. Gritemos sempre, para que "jamais a tirania, ressurja do velho porão". Um abraço,

  • Mari ana

    Muito autêntico e relevante, parabéns! As palavras soam como tapas e representam um grande e necessário esclarecimento



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