PARADIGMA DE FÉ

Alberto dos Anjos Costa

Deprimido e derrotado,

João cultivava a tristeza,

seus desejos destroçados,

pelo revés que lhe trouxe a fraqueza.

 

Aquele homem casado,

pacato e trabalhador,

estava desesperado,

por perder o seu grande amor!

 

Conhecera na igreja,

a mulher que tanto amava!

O noivado não foi surpresa!

O casamento se aproximava!

 

Com a casa já construída,

casaram em felicidade!

Joana era tão divertida!

João era suave humildade!

 

Aquele homem simples,

honesto e trabalhador,

vivia uma vida sem requintes,

no elo que era feito de amor!

 

João era mestre pedreiro,

gostava do que fazia!

Trabalhava o mês inteiro,

para poupar suas economias!

 

Sua inspiração era Joana!

Não deixava-lhe faltar nada!

A paixão era tamanha,

pois, adorava a mulher amada!

 

Dois anos se sucederam,

e Joana conheceu o adultério!

Seu amante era um seresteiro,

e guardava o seu pecado em mistério!

 

Contou seu segredo chorando,

suplicou a João o seu perdão!

Viu que seu amor era o Fernando,

e foi embora com o amante em paixão!

 

João não era mais esperançoso!

Amargura agora era a companhia!

Perdeu o alento, ficou desgostoso!

Perdeu o encanto com a alvenaria!

 

O pedreiro João já não trabalha,

e em casa quase não fica!

É no bar que em farra extravasa,

jogando bilhar e bebendo birita!

 

Martirizado e frustrado pela funesta traição!

A esposa que tanto amava quebrou o juramento,

trocou-lhe pelo amante oferecendo-lhe a rendição!

Desiludido vê agora seus anseios em fragmentos!

 

Aquele homem ficou doente,

por perder o seu grande amor,

vivia um pulsar plangente,

acalentando o desamor!

 

Átimo de desesperanças, de amarguras no presente,

coração desalentado, definhando em sofrimento;

abarcado pela solitude no infortúnio deprimente,

cáustica dor em opressão exteriorizando seu tormento.

 

Pungente tristeza prostrando o homem de seu viver,

desistindo da luta, quebrantando seu sonhar,

derribando a alegria, pulverizando seu querer,

corroendo sua alma, enlutando seu trilhar.

 

Aquele ser passou a questionar!

Se Deus, deveras tem existência!

Pensou!

Por que estou aqui a me quebrantar?

Deveras!

Vivo em desventura e em conseqüência,

sinto-me castigado pela solidão a me sepultar!

 

Perdeu a fé! Não tinha mais crença! 

Deixou de acreditar em Deus!

Dizia que a criação da onipotência,

era falácia perniciosa de fariseus!

 

Arrefecido sentimento,

pela fé esquecida,

desacreditou do firmamento,

deixou sua vida embrutecida.

 

Aquela fisionomia carrancuda, carregada de tristeza, tinha ideias absurdas;

suicidas em certeza!

 

Cultivava agora a depressão,

a melancolia, e vivia sempre a lamuriar;

sua companheira era a solidão,

a lúgubre desesperança era seu mortificar!

 

Não demonstrava sentimentos,

era frio e sem empatia,

sua vida era tormento,

sua mente, a desarmonia!

 

Dia e noite estava a sofrer,

se dopando com remédios,

não sabia mais o que fazer,

para sucumbir o ingente tédio!

 

Aquela alma em fragilidade,

insensível e descrente de tudo,

não acreditava em milagre;

o seu viver era de luto!

 

Sempre foi bom homem, honrado e trabalhador,

teve instantes de venturas, de sorrisos, de quimeras,

travo, revés e reviravoltas, solaparam o seu vigor,

seu espírito é quebradiço; agora é o vício que lhe macera.

 

Vida póstuma, de um pobre ébrio carcomido,

tétrica realidade, mortificando o seu tempo,

servo do álcool e drogas, que agora são seu lenitivo,

cruel escolha que atiça fúnebre suplício incruento.

 

Só e desprezado, com a maldição em companhia,

seu horizonte foi enegrecido, sepultando suas vontades,

pensamentos desvairados pelas narinas brancas da cocaína,

injeta na veia o que envenena; a virulenta insanidade.

 

Extenuado pelas visões, do irreal desditoso alucinante,

corpo e mente desvanecendo pela dependência solenizada,

a oclusão é sinônimo da vida que é irrelevante,

agora jaz um moribundo elegendo sua mortalha.

 

Quando tudo parecia martirizar, findar e perecer, o extraordinário despontou: algo de lindo aconteceu! Naquele exato momento, o vento pela janela aberta adentrou! Trouxe para perto do homem um alento! Um papel com várias frases escritas que ele pegou!

 

No papel, encontrava-se uma oração!

O homem começou a lê-la com atenção!

FRATERNA ORAÇÃO, era como se intitulava!

Agora vou transcrevê-la para vossa apreciação:

 

Ó poderosa força, abençoai-nos e protegei-nos de todo mal. Mostrai-nos o caminho iluminado por sua luz divina, e que vossa presença possa estar sempre junto de nós; orientando-nos e ensinando-nos, para a evolução do nosso espírito.

Rogamos para que vós que sois a onipotência, irradie em nossos corações o sentimento do amor, da compaixão, da esperança.

Suplicamos clemência para nossos atos de imperfeição; concedei-nos Senhor o vosso perdão.

Deus,Todo-Poderoso, de força benevolente, abençoe-nos. Que nos momentos difíceis possamos sentir a magnitude de tua presença, para podermos com fé, suplantá-los e crescer espiritualmente neste aprendizado.

Vós que sois a invisível energia que transcende, benigna e solidária, não nos desampare nos momentos aflitivos, e que em nossos instantes de júbilo, não nos esqueçamos de vós.

És a força do Universo, lenitivo para a vida; ensina-nos, pois, a colher na seara da vida: fé, alegria, perseverança, solidariedade e harmonia.

Sigamos sua Luz, sintamos sua aura, para conquistarmos a cada novo dia a centelha do Alento, da Verdade, da Retidão e da Justiça; que o nosso espírito possa estar envolto pelo sentimento da humildade; pois, somos partículas do Firmamento.

Senhor, abençoe nossos entes queridos. Dê-nos Boa Sorte, Paz, Saúde;  consciência para que nossas ações sejam de respeito e irmandade para com o mundo.

Vós que sois espírito imaculado, livrai-nos dos seres involuídos que semeiam a maldade; coloque-nos sempre no caminho do bem, para abraçado a Ti, trilharmos venturosos e agradecidos nesta dádiva que é o viver.

???????

Inescrutáveis sentimentos, irradiou-se ao homem que se perdeu,

uma luz do firmamento, um benigno Sol resplandeceu!

Aquele homem sem fé e descrente,

ao ler a Fraterna Oração ficou emocionado,

em prantos absorveu uma energia latente,

seu mergulho n'alma reanimou o amor abandonado!

 

Seu espírito sentimentalizou o resplendor,

quando com vontade e fé começou a orar!

Sentiu estancar de imediato a sua dor!

Uma reluzente paz e harmonia a lhe abençoar!

 

Abraçou a fé!

Porque as incertezas são etéreas em mistérios florescidos,

seara de grânulos cultivados por entes desconhecidos!

Deus é necessário para prover-nos de esperanças,

para termos fraternidade e o amor sempre em constância.

 

Da vida que desprezava passou a dar valor,

o amor-próprio e autoestima brotaram em seu coração,

seu derrotar foi mitigado como o desabrochar de uma flor,

ponderação e vontade ensejaram-lhe a superação.

 

Nefastos vícios da promiscuidade estão agora em reclusão,

a vida foi renascida pelo milagre em castidade,

a bênção espargida fez-lhe conhecer a provação,

os vícios abandonados fomentaram sua liberdade.

 

A vida é mesmo assim: um árduo e difícil aprendizado,

cada um com sua cruz; algumas leves, outras pesadas,

a fé e a esperança, não devem abandonar frágeis culpados,

o amor é o sublime vencedor na fraternidade comungada.

 

A imperfeição é inerente na existência em pecado,

o ser humano infligindo atitudes em transgressões,

pensamos ser doutos, sábios e muito mais civilizados,

omitimos nosso  lado selvagem na impiedade das paixões.

 

Descobriremos ingentes castigos na sociedade de ilusões,

pois, viver é o iminente perigo diante da vulnerabilidade,

a vida é feita de escolhas de imensuráveis emoções,

como estrelas em esplendor procuraremos a felicidade.

 

João foi aprendendo,

que o tempo traz a compreensão;

sua resiliência recrudescendo,

mandou embora a rendição!

 

Em júbilo viu sua aflição diminuir!

Sua mente energizando a gratidão!

O seu coração magnetizou o sorrir!

Estava salvo o homem pelo poder da oração!

 

  • Autor: Alberto dos Anjos Costa (Offline Offline)
  • Publicado: 21 de março de 2021 01:12
  • Comentário do autor sobre o poema: Não podemos viver felizes se não formos justos, sensatos e bons; e não podemos ser justos, sensatos e bons sem sermos felizes.
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 7


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.