A desolação da lua no céu claro e limpo

Doloroso

Abre-te, olho negro do mistério,
Da indiferença, do desconhecido,
Da dor que devasta vales, montanhas, sonhos, vida...
Abre-te para ver o espaço
Repleto de vida e nada:
De vida de abraços acolhedores das quimeras satisfeitas;
Do nada que preenche minhas eras,
Meus dias, meus minutos de gélida solidão.
Abre-te, portal da mágica dimensão!
Abre-te para nada mostrar à gente estulta
E aos espíritos errantes que te imaginam.
Exibe teu breu que se projeta na claridade harmoniosa de teu entorno;
Brilha tua escuridão que espreito à distância,
Sondando o paradeiro de tua alma que partiu...
Existe, torturador cruel e invencível,
Para castigar eternamente o coração que ousar bater
E respiração que ousar expelir-se,
Com um suspiro que abala o universo,
Com a espera infrutífera por um gesto de consolo,
Com uma morte tão pesada e desprezada quanto a poeira de uma existência
Dissipada sem piedade pelas ruas
Qual cão à procura do dono que nunca teve...
Não saibas jamais das lágrimas que alimentam rios de desesperança,
Das lágrimas que caem como chuva
Dos olhos que te vigiam,
Cuja visão se turva na névoa
Que guarda o que guardas
Em perfeita simbiose com um céu de estrelas
Que embeleza um outro mundo,
Que é tão proibido quanto sonhar banhar-se com tua sedutora luz feminil.
Toma meu ser ignorado,
Minha voz emudecida,
Minha melancolia densa como mercúrio,
E faz de mim uma morte diária
Por tempos infindáveis.
Sepulta para sempre e todos os dias
A vida que não viveu
E nasce sem parar
Sob uma lápide sem nome e sem epitáfio,
Com o pôr do sol como solitário velador
Da imortal solidão.

  • Autor: Doloroso (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 5 de março de 2021 20:33
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 5
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