Ana Paula Valentim

O inevitável desfecho

é mórbido como esse corpo
abriga meu ser mas um dia
se despedaçará
como o P tem um traço
que afunda no papel
o esquife desce por entre a terra
levando um já totalmente
vulnerável corpo a insetos
que o moerão
como a moenda moía
a cana-de-açúcar aos esforços
dos explorados escravizados
e como nós iremos
eles já foram ao pó de cálcio
os que antes viviam com o fumo
como o fumo irão às cinzas
na incandescente cremação
e todo o depósito que antes
havia vida
já jaz no obscuro falecimento
em uma sepultura
encarada por alguém em prantos
por aqueles ossos no fundo
deixando flores sobre o que um dia
foi alguém a doar amor
mas já é uma memória insolúvel

  • Autor: Ana Paula Valentim (Offline Offline)
  • Publicado: 7 de Fevereiro de 2021 12:04
  • Comentário do autor sobre o poema: um pouco mórbido, mas real.
  • Categoria: Gótico
  • Visualizações: 15

Comentários2

  • Shmuel

    Profundo, um poema que diz coisas, sem meias verdades.
    Grande poeta, Ana Paula Valentim.

    • Ana Paula Valentim

      Obrigada mesmo. Você escreve muito bem também.

    • Sérgio Valsala

      Esplêndido!
      Uma dádiva ter lido esse poema.

      • Ana Paula Valentim

        Fico muito feliz! Seu comentário fez meu dia!



      Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.