é mórbido como esse corpo
abriga meu ser mas um dia
se despedaçará
como o P tem um traço
que afunda no papel
o esquife desce por entre a terra
levando um já totalmente
vulnerável corpo a insetos
que o moerão
como a moenda moía
a cana-de-açúcar aos esforços
dos explorados escravizados
e como nós iremos
eles já foram ao pó de cálcio
os que antes viviam com o fumo
como o fumo irão às cinzas
na incandescente cremação
e todo o depósito que antes
havia vida
já jaz no obscuro falecimento
em uma sepultura
encarada por alguém em prantos
por aqueles ossos no fundo
deixando flores sobre o que um dia
foi alguém a doar amor
mas já é uma memória insolúvel
- Autor: anapaula.*. ( Offline)
- Publicado: 7 de fevereiro de 2021 12:04
- Comentário do autor sobre o poema: um pouco mórbido, mas real.
- Categoria: Gótico
- Visualizações: 15
Comentários2
Profundo, um poema que diz coisas, sem meias verdades.
Grande poeta, Ana Paula Valentim.
Obrigada mesmo. Você escreve muito bem também.
Esplêndido!
Uma dádiva ter lido esse poema.
Fico muito feliz! Seu comentário fez meu dia!
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