Eduardo e Mônica

Jose Fernando Pinto

Eduardo abriu os olhos e não quis se levantar, não queria o mundo enfrentar, eram dias de luta, dias de grande disputa por ali, nessa terra de gigantes, longe demais das capitais, um mundo selvagem que naquele momento parecia um faroeste caboclo. Sem muitas perspectivas, pois não conseguira o emprego na fábrica, Eduardo se sentia como “Daniel na cova dos leões”, gritava a plenos pulmões, mas o mundo não lhe ouvia.

 

Que pais é esse? Até quando esperar pra deixar de levar porrada? Não sou mais um homem primata, mas aonde vou vejo bichos escrotos matando a plebe, instalando um estado violência sem proteção ao cidadão, sem segurança, onde as pessoas parecem múmias aos olhos do capital.

 

Eduardo era sim um sonhador, via flores nos desertos, entendia que nossas vidas mesmo às vezes parecendo uma sopa de letrinhas, era uma mistura de tédio e química que formavam uma usina atômica, uma espécie de angra dos reis humana.

 

Mas sonhar também custava muito, depois do começo, você não voltava mais para realidade, as revoluções por minuto tornavam a alvorada voraz, muitas vezes capaz de conferir toda forma de poder aos sonhadores, índios selvagens ou simplesmente alguém perdido nos dias de luta como plantas embaixo do aquário.

 

Bravo mundo novo, nunca fomos tão brasileiros com tantas músicas urbanas, mas sem o capital inicial para realizar os sonhos. Eduardo brigava com a censura, sabia que os códigos existentes jamais seriam confluentes com a nova era tecno, que o homem primata jamais entenderia as poesias e as melodias advindas dessa rádio pirata que era a juventude naquele momento.

 

Mas Eduardo nunca desistiu, a timidez, a novidade, um dia fizeram com que ele enviasse uma carta aos missionários, mesmo possuindo ojeriza ao sistema e as regras, ele sabia que as armas pra lutar seriam a literatura que na noite escura reverbera. Ouça o que eu digo, não ouça ninguém, e mesmo com a cidade em chamas, nós somos quem podemos ser, e a verdade a ver navios com as tribos e os tribunais jamais cessarão a revolta dos dândis que sobrevivem ao consumo escravizando a dama e o vagabundo.

 

Eduardo jamais desistiu mesmo nas vezes que o tempo perdido o trazia de volta ao início, lembrava sempre que as quatro estações existiam para socorrerem a nau a deriva, formar soldados e homens nas ruas. Um dia voltando pra casa ao descer do metro linha 743, Eduardo conheceu Mônica e um novo mundo se fez.

 

Jose Fernando Pinto

  • Autor: Jose Fernando Pinto (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de janeiro de 2021 20:26
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 16
  • Usuários favoritos deste poema: DaVinci
Comentários +

Comentários1

  • DaVinci

    Bonito e muito bem elaborado!!!

    • Jose Fernando Pinto

      Gratidão DaVinci, é uma brincadeira comas músicas da minha adolescência, texto feito sobre os nomes das músicas e bandas, grande abraço!



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