- Moço, vai engraxar o sapato?
Clama o garoto de rosto pacato,
Com sua caixinha ás costa!
A sua ansiedade, intrujo,
Olhava meu sapato sujo,
Esperando por minha resposta
- Mas isso é apenas poeira
Resultado de uma brincadeira
Correndo atrás do meu gato;
Um pano molhado dá jeito
Se topar o trato, tá feito
E me sairá mais barato.
- Mas, tem barro embaixo
Lavo tudo e engraxo
Lustro, e deixo tinindo
Antes que me dê o dinheiro
Examine os dois primeiro
Só pague se estiver lindo.
- Parece até brincadeira
Estende-me essa cadeira
E capriche no teu serviço
Se o deixar renovado
Pago o preço dobrado
E mais um almoço por isso
Porém, te peço um favor,
Que use a graxa incolor
Pois é a minha costumeira;
Perdoa-me se te chateia
Mas, pra não sujar a meia
Não dispenso a calçadeira.
Enquanto o pequenucho
Deixava o sapato um luxo
Perguntei-lhe algo mais:
Qual o estudo que tinha
O nome de sua mãezinha
De que trabalhava seu pai?
Fitando os olhos ao céu
Disse: meu pai faleceu
A mãe se encontra acamada
Pra não viver esmolando
Trabalho na rua engraxando
A mana mais velha, empregada
Ouvi sua história em silêncio
Sequei seu pranto num lenço
E lhe convidei pra almoçar
Paguei-lhe o valor duplicado
Quando me havia afastado
Outra vez o vi me acenar
Um fato estranho, inusitado
Foi que ao olhar meu calçado
Com caprichosa lustragem
Algo me deixou perplexo
Pois foi num nítido reflexo
Que no brilho vi a sua imagem
Levantei-me repentino
E lá estava ainda o menino
Do mesmo jeito a sorrir
Desejei ir ao seu encontro
Mas, então, pra meu espanto
Após um adeus, o vi sumir
- Autor: Elfrans Silva (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 22 de janeiro de 2021 17:44
- Categoria: Fantástico
- Visualizações: 63
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