ÓRFÃOS DO PODER PÚBLICO

JUCKLIN CELESTINO FILHO



Passa veloz o vento. 

Ao volver os olhos 

Para a terra,

Lágrima dolente

Do seus olhos desce

Ao ver algo que a alma

Lhe entristece,

E em ato contínuo, para, a fim 

De confidenciar

Com as estrelas seu lamento,

Seu pesar:

Lindas estrelinhas,

Que os céus pontilham,

E a linha

Da abóboda celeste trilham

Com suas luzes douradas,

Ouvem as súplicas minhas:

Quem são aquelas criaturas  ?

Meu Deus ! Que tormento!

Que agruras

Transparecem

Nas faces delas.Coitadas!

Parece só conhecerem privações!

São a cara do sofrimento,

Cujo semblante transfigura

Acerbas aflições

As quais padecem!

 

Não sabe, companheiro?

Vo-lo direi.

Prontificou-se  a chefe 

Dos astros dourados,

Olhos rubros 

De tanta lágrima vertida!

Onde moram?Coitados!

Muitos não têm casa.

Dormem pelas calçadas,

Tendo pedaços de papelão

Espalhados pelo chão

Como camas improvisadas,

E o céu por teto,

E os que as  têm ,

Se é que podemos dizer assim ,

Residem em casebres de taipa,

Ou se aboletam

Em míseros barracões!...

Aonde vão? Pelos cantos,

Ao Deus-Dará,

Um cortejo dorido

De maltrapilhos, indigentes,

Pobres criaturas

Trazendo nos corpos

Marcas de uma existência sofrida:

Os corações 

Em tormenta,

Vertendo lágrimas de dor!...

Uns, já de torpor,

Tontos;

Outros, enlouquecidos --

A alma ferida,

Estendendo a mão 

À caridade,

Desvalidos da sorte,

Órfãos do poder público,

Cuja morte,

A alguns já se dá,

Ainda em tenra idade,

Fora os que sucumbem

Nos primeiros dias de vida.

 

Fez pausa, a estrela em questão,

A Dalva, para chorar seu canto,

Derramar seu pranto!...

E, à dor movida, exclama:

É  triste a realidade 

Que à razão nos chama 

E nos punge o peito:

A nódua do desprezo,

Do descaso ,

Contra o pobre brasileiro,

A infamia 

Que mata, que humilha,

Que embrutece,

Que enlouquece,

Que prostra de joelhos

Entregue à aflição,

Ao desespero,

O pobre pai de familia 

Em  situação

De penúria ...!

Bastaria, então,

De amor,

De compreensão,

De solidariedade,

Apenas um gesto!

Mas não o fazem,

Porque trazem

Uma pedra  em lugar do coração!

E só quem não conhece

O Brasil, desconhece

Essa mácula infame

Que mancha sua história: a fome!

 

Uma nova voz,

Em ira atroz,

Do rubro horizonte 

Se levanta,

O dedo  em riste aponta:

-- Quem são esses 

Andarilhos errantes,

Que caminham suplicantes,

Dentre abastada gente

De roupas caras, coloridas,

Das nababescas 

Festanças desenfreadas,

Dos bolsões 

Da  vida,

Dos lautos

Banquetes esbanjatórios,

Ostentando sua pompa,

Em meio à grandeza

E o contrastre da pobreza --

Miséria que como peste campeia,

E ao pátrio chão enlodeia?!

-- Lamenta o Sol, pasmado ,

A estremecer, encolerizado!

 

Pontifica a deusa  dos namorados:

Não vês, Infante Loiro,

O quadro melancório

Desses miserandos seres

Que aos olhos , se nos apresenta?

São os que  essa "gente"

A qual se refere,

Chama de " paraibas,

Baianos" e outros 

Termos pejorativos,

E aos quais, finge não ver,

E por ventura, se os virem

Se aproximando,

Vai se afastando,

Como se estivera 

Frente a leprosos,

Rebotalhos humanos,

E não pobres pessoas

Que padecem de fome,

Quadro infame

Que que teima em surgir de novo,

Batendo desumana e inclemente 

 De solapada

À  porta

Do pobre povo,

A esperança morta,

Amordaçada, aprisionada

Na insensibilidade 

De não terem olhos, nem planos

Para pobres criaturas,

Odiadas pela classe hegemônica,

Que detém as rédeas do poder!

 

 

 

 

 

 

  • Autor: Poeta (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 10 de janeiro de 2021 10:11
  • Categoria: sociopolitico
  • Visualizações: 13


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.