Danilo C. Bussolar

Tourada dos Pés Descalços

Tourada dos Pés Descalços

 

Na noite enluarada no sertão
Que pelos pirilampos se ilumina,
Os grilos tagarelas da canção
Que os sapos lá do brejo desatina
Carregam vista agreste em procissão
Ao mocho já notívago e grazina.
E na noturna orquestra que executam,
Os gemidos da dor do parto escutam.

Nessa noite nascia iluminado
À sombra dum afável juazeiro
Um baiano sem mácula e pecado,
Que seria, entretanto, zafimeiro.
Do ventre de sua mãe foi retirado,
Mas fora, infelizmente, o derradeiro.
Morreu a mãe que em prantos o pariu,
E que em meio aos seus prantos, já partiu.

Nascendo, pois, sem mãe que o bem criasse,
A educação não foi tão primorosa.
Porém por mais que esforço o pai tentasse,
O curumim sentia-se bem prosa.
Encarava matuto face a face
Sem medo da ventura desgostosa
Dalgum tiro que o pudesse furar
E bem como sua mãe, o bem matar.

Com dez anos fez uma escolha errada:
Foi enfrentar o touro lancinante
(Touro o qual por desferir chifrada
Devastadora e muito perfurante,
Chamaram de "Demônio de Esplanada")
Achando que se sairia ovante...
O curumim não resistiu ao furo,
Caiu no chão atravessado e duro.

  • Autor: Qorujo (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 9 de Janeiro de 2021 16:23
  • Comentário do autor sobre o poema: O fim definitivo do baiano desnomeado em estrofes camonianas.
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 23


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