Marta havia atrasado na casa dos pais
Embora sobre o protesto do patriarca da família
Aquela mulher e seu bebê seguiriam sozinhas
Como sempre não estaria lá esperando por elas
O marido ausente, teria ido pescar ou caçar
Ou talvez só estivesse bêbado no bar do seu Manuel
Esperando a bebedeira passar para à casa poder voltar
A mãe começava a rezar só de lembrar
Das histórias que ouvia da nona
Que certa vez aqui por essas bandas
Viveu uma criatura meio lobo meio homem
Por quatorze luas cheia
Marta debochava das histórias que escutava
“Tal monstro não existe”! E dava gargalhadas
O pai tinha outro medo:
Por aqueles lugares esquecidos
Escondiam-se bandidos
Ladrões de cavalo e gado
Esperando para de noite atacar
Receava que a filha e a neta
Com algum deles pudesse encontrar
Marta sentiu medo e se arrepiou por inteira
Quando ouviu um barulho perto da porteira
A cachorrinha que a acompanhava
Latiu duas ou três vezes e ficou calada
A casa ficava a cem metros da estrada
A mulher correu feito louca sem olhar para traz
Com a criança no colo que só chorava
Adentrou a casa velha de madeira
Fechando a porta ligeira
Mais que depressa acendeu o lampião
Acreditando que lá fora tinha ladrão
Até ouvir o primeiro uivado
Que a fez cair no chão apavorada
E lembrar que a filha não era batizada
Sentou-se na cadeira da sala
Observando pelas frestas da janela
La fora na noite fria enluarada
Andando pelo quintal estava uma fera
Marta logo percebeu que a besta
Forçava a porta da casa para entrar
Toda vez que ouvia a criança chorar
Parecia mais um cão de outro mundo
Que veio lá debaixo bem do fundo
Com olhos vermelhos e famintos
O corpo coberto por pelo escuro
As garras afiadas e os dentes finos
Por ali haviam onças e cachorros do mato
Com certeza, não era nenhum daqueles bichos
Por quase uma noite inteira
Marta se manteve acordada
A fera só foi embora de madrugada
Depois que a lua cheia deixou a noite
Então ela finalmente pegou no sono
Naquela desconfortável cadeira de sala
Acordou de manhã, já com o marido em casa
Ele dormia com a boca aberta, roncava e babava
Foi grande o susto que Marta levou
Quando viu entre os dentes do marido
Pelos da sua cachorrinha e pedaço de um osso
Correu com a criança no colo para o pai avisar
Não teve dúvida que a fera da noite era o esposo
Que transformado em lobisomem quis a filha devorar
Pedro Trajano de Araujo
30 dezembro 2020
Penápolis SP
- Autor: Trajano (Pseudónimo ( Offline)
- Publicado: 30 de dezembro de 2020 15:30
- Comentário do autor sobre o poema: Lobisomem (Um causo de arrepiar) Cresci no sítio ouvindo histórias de lobisomem, mula sem cabeça... Particularmente neste (Causo) acima usei fragmentos de uma história que minha mãe contava quando eu era criança.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 8
Comentários1
Vi o filme inteiro na minha cabeça! Que final alucinante irmão ! WOWW..
Parabéns
Obrigado poeta pela leitura o comentário.
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.