Lobisomem (Um causo de arrepiar)

Pedro Trajano de Araujo

Marta havia atrasado na casa dos pais

Embora sobre o protesto do patriarca da família

Aquela mulher e seu bebê seguiriam sozinhas

Como sempre não estaria lá esperando por elas

O marido ausente, teria ido pescar ou caçar

Ou talvez só estivesse bêbado no bar do seu Manuel

Esperando a bebedeira passar para à casa poder voltar

 

A mãe começava a rezar só de lembrar

Das histórias que ouvia da nona

Que certa vez aqui por essas bandas

Viveu uma criatura meio lobo meio homem

Por quatorze luas cheia

Marta debochava das histórias que escutava

“Tal monstro não existe”! E dava gargalhadas

 

O pai tinha outro medo:

Por aqueles lugares esquecidos

Escondiam-se bandidos

Ladrões de cavalo e gado

Esperando para de noite atacar

Receava que a filha e a neta

Com algum deles pudesse encontrar

 

Marta sentiu medo e se arrepiou por inteira

Quando ouviu um barulho perto da porteira

A cachorrinha que a acompanhava

Latiu duas ou três vezes e ficou calada

A casa ficava a cem metros da estrada

A mulher correu feito louca sem olhar para traz

Com a criança no colo que só chorava 

 

Adentrou a casa velha de madeira

Fechando a porta ligeira

Mais que depressa acendeu o lampião

Acreditando que lá fora tinha ladrão

Até ouvir o primeiro uivado

Que a fez cair no chão apavorada

E lembrar que a filha não era batizada

 

Sentou-se na cadeira da sala

Observando pelas frestas da janela

La fora na noite fria enluarada

Andando pelo quintal estava uma fera

Marta logo percebeu que a besta

Forçava a porta da casa para entrar

Toda vez que ouvia a criança chorar

 

Parecia mais um cão de outro mundo

Que veio lá debaixo bem do fundo

Com olhos vermelhos e famintos

O corpo coberto por pelo escuro

As garras afiadas e os dentes finos

Por ali haviam onças e cachorros do mato

Com certeza, não era nenhum daqueles bichos

 

Por quase uma noite inteira

Marta se manteve acordada

A fera só foi embora de madrugada

Depois que a lua cheia deixou a noite

Então ela finalmente pegou no sono

Naquela desconfortável cadeira de sala

Acordou de manhã, já com o marido em casa

 

Ele dormia com a boca aberta, roncava e babava

Foi grande o susto que Marta levou

Quando viu entre os dentes do marido

Pelos da sua cachorrinha e pedaço de um osso

Correu com a criança no colo para o pai avisar

Não teve dúvida que a fera da noite era o esposo

Que transformado em lobisomem quis a filha devorar

 

Pedro Trajano de Araujo

30 dezembro 2020

Penápolis SP

  • Autor: Trajano (Pseudónimo (Online Online)
  • Publicado: 30 de dezembro de 2020 15:30
  • Comentário do autor sobre o poema: Lobisomem (Um causo de arrepiar) Cresci no sítio ouvindo histórias de lobisomem, mula sem cabeça... Particularmente neste (Causo) acima usei fragmentos de uma história que minha mãe contava quando eu era criança.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 8
Comentários +

Comentários1

  • Terral 07

    Vi o filme inteiro na minha cabeça! Que final alucinante irmão ! WOWW..
    Parabéns



Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.