Ato de contra vontade / Razão em linha reta

Anna Gonçalves

Não falo tanto de amor.

O sentindo dessa palavra e da paz foi rasurado em um nome,

um desassossego de traço e contorno.

Digo à razão que não me apresse, que dome o ímpeto de querer mais um retorno.

 

É o tormento lúcido, a vertigem/labirintite que avisei,

E, assumindo o risco, o abismo da Divina Comédia o qual beijei.

O ponteiro da hora do meu sono rompeu a madrugada,

minha mente clareou, e a vigília insiste.

 

Não é mais a fome voraz, a paixão desvairada,

é um canto suave que a memória ouviu ali.

Uma leveza estranha, o oco de um lugar,

onde a vontade de ter já não tem mais lugar.

 

Nego à minha boca o teu nome, ao passo o teu chão,

caminho em linha reta, refaço o meu destino.

A luta é por não refazer, é por ter a mão

Firme o bastante para não buscar a música, o riso e o teu sino.

 

Mas, lá no fundo, onde a lógica não alcança,

Há um pequeno e morno bem-estar que ainda balança.

Não é saudade ativa, é rastro que mesmo querendo, não se apaga,

não é querer de volta, é aceitar que passou.

 

E se a alma, num suspiro, por ti ainda se afaga,

é só o resquício gentil do que o tempo deixou.

Devolvi minha paz, mas o risco é inerente,

ainda corro o risco de me sentir contente.

E assim sigo, na ponte do risco calculado,

onde o que foi é um frio que já não me assusta.

 

É um equilíbrio tênue, um passo dado,

com a sabedoria triste da coisa já justa.

O risco não é mais cair, nem te reencontrar,

mas lembrar, sem dor, que vale a pena lembrar.

  • Autor: Anna Gonçalves (Pseudónimo (Online Online)
  • Publicado: 13 de novembro de 2025 08:45
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 3
  • Usuários favoritos deste poema: Shmuel
Comentários +

Comentários1

  • Shmuel

    Um poema lindo de se ler!
    Parabéns adorei cada verso.

    Abraços



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