Não falo tanto de amor.
O sentindo dessa palavra e da paz foi rasurado em um nome,
um desassossego de traço e contorno.
Digo à razão que não me apresse, que dome o ímpeto de querer mais um retorno.
É o tormento lúcido, a vertigem/labirintite que avisei,
E, assumindo o risco, o abismo da Divina Comédia o qual beijei.
O ponteiro da hora do meu sono rompeu a madrugada,
minha mente clareou, e a vigília insiste.
Não é mais a fome voraz, a paixão desvairada,
é um canto suave que a memória ouviu ali.
Uma leveza estranha, o oco de um lugar,
onde a vontade de ter já não tem mais lugar.
Nego à minha boca o teu nome, ao passo o teu chão,
caminho em linha reta, refaço o meu destino.
A luta é por não refazer, é por ter a mão
Firme o bastante para não buscar a música, o riso e o teu sino.
Mas, lá no fundo, onde a lógica não alcança,
Há um pequeno e morno bem-estar que ainda balança.
Não é saudade ativa, é rastro que mesmo querendo, não se apaga,
não é querer de volta, é aceitar que passou.
E se a alma, num suspiro, por ti ainda se afaga,
é só o resquício gentil do que o tempo deixou.
Devolvi minha paz, mas o risco é inerente,
ainda corro o risco de me sentir contente.
E assim sigo, na ponte do risco calculado,
onde o que foi é um frio que já não me assusta.
É um equilíbrio tênue, um passo dado,
com a sabedoria triste da coisa já justa.
O risco não é mais cair, nem te reencontrar,
mas lembrar, sem dor, que vale a pena lembrar.
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Autor:
Anna Gonçalves (Pseudónimo (
Online) - Publicado: 13 de novembro de 2025 08:45
- Categoria: Amor
- Visualizações: 3
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Online)
Comentários1
Um poema lindo de se ler!
Parabéns adorei cada verso.
Abraços
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