Como gaivotas que avultam
Elas surgem complacentes
No horizonte da mente
Parecendo poesia
Falam de amores tardíos
Que despedaçaram almas
Inquietas ou muito calmas
Fazem um balanço da vida
Uns usam os tempos, os anos
Que ali o destino insano
Traçou ao corpo a sentença
Chega sombria, direta
Como o falcão na caçada
Usa a mente embassada
Como vidraça no inverno
Toca no fundo do cerne
Da alma, mesmo intocada
Sem regressar, ela segue
Destinada como sorte
Suporta a arte do embate
Como brilhante ou quilate
E ali no branco papel
Feito a águia entre as nuvens
Vez que outra, solta chispas
Como o núcleo do sol
Muitas vezes ali chega
Maltrapilha, desgrenhada
Contando histórias passadas
De enroscos e amores
Onde só sobrou à alma
Regressar, como fizera
Vivendo ali de quimeras
Com saudades de outras eras
Outras vezes é altiva
Rica em sabedoria
Navegando ali por mundos
Lampejos vêm em segundos
Socorrer e então caneta
Nas histórias, nas facetas
Herdadas ali pela vida
Na melodia que ao vento
Como um hino de bondade
Bem rimada, bem cantada
No canto que floresceu
Sem avistar o seu eu
Que vez que outra se esconde
Às seivas da poesia
Mesmo o sonho estando longe
A poesia realiza
Na frase bela e precisa
Fala de mundos, de tempos
De almas que ao relento
Dão a volta, sincronizam
Voltam a entrar no recinto