Se não posso viver o que quero, pelo menos escrevo como se vivesse. Cada linha um sonho não realizado, uma utopia mal pensada e um desespero em saber que bem lá no fundo essa falsa realidade me aperta. Fico sem ar. Fumo um cigarro e volto a imaginar uma alegria qualquer, que me chega ao pensamento como droga mal consumida, mal embalada, satisfação com data vencida. Escrevo porque é impossível morar na realidade então, minha cabeça constrói um prazer que eu aspiro com desespero e quando acaba, tudo volta a não fazer sentido. Isso quando não não me amparo nos pensamentos obscuros persistentes: imagino mil e uma situações miseráveis onde meu ser é magoado, infernizado, destruído, humilhado, sem dó, nem piedade. As lágrimas escorrem e me sinto novamente inconsciente, completamente dependente desse falso sentimento de angústia, que plantei com a pior das intenções, que é fugir da realidade, nem tão ruim assim, a que sou merecedor.