Os dentes apodrecidos que hoje me tiram o sono.
Qual cão uivando e sofrendo em total e brutal abandono.
Que no “Eos” de minha vida em alvura cintilavam.
Eram rígidas peças de marfim que em profusão brilhavam.
Trinta e duas lindas estrelas vaidosamente agrupadas.
Dispostas em harmonia em mais que perfeita arcada.
Que se abriam em arco-íris, ostentadas em sorrisos.
De molares, pré-molares, incisivos, caninos e sisos.
Sem uma nódoa sequer, sem traços de imperfeição.
Mais belos que ornamentos de escultural compleição.
Bêbado de tanto orgulho, não vi que o tempo passava.
Que na rede do engano meu sono febril embalava.
Tolo, não soube cuidar, tratar tamanha pureza.
Indigno de ostentar tão pura e nobre riqueza.
Não percebi que o preço logo me seria cobrado.
Por desdenhar loucamente do tesouro ofertado.
Portanto quando acordei, do sono da ilusão.
O espelho da vaidade quebrou-se de supetão.
Da fútil ostentação a um presente apodrecido.
O que ontem foi estrela hoje é carvão enegrecido.