Hoje quando pensava em minha vida, uma surpresa incontida veio de encontro a mim. A essa altura da vida, quando já enxergo o fim, de repente descubro que estou incompleto: me descobri um rascunho.
Começo a entender a partir de então, como a vida é em vão e importamos tão pouco. Percebo que eu deveria ter sido mais louco em detrimento da razão, deveria ter alçado mais voos a ficar pelo chão.
Me descobri um rascunho. Me perdi no receio de amar e ser amado, de perdoar e ser perdoado, pois a vida é tão curta e há tanta disputa sem uma meta certeira. Me descobri um rascunho, disputei uma guerra e me perdi na trincheira.
Hoje eu entendo que não valeu a pena tanta dedicação a uma causa perdida, quantas noites perdi, quantas mal dormidas, e no fim apenas um esboço, estrutura de um moço que sonhava demais. Hoje me descobri um rascunho, e com a caneta em punho subscrevo meus tristes ais.
Hoje eu percebo a estrada perdida, a longa ferida que adquiri no caminho. Hoje eu choro sozinho, um rascunho somente, um choro demente e uma taça de vinho. É o vinho a minha companhia, resquício de alegria que embala a minha noite.
Hoje me descobri um rascunho, e para meu açoite, as lembranças retornam e às vezes deformam meu passado. Apenas um rascunho eu sou, um desenho traçado, sem fim, sem futuro, sem o resto de mim.
Jose Fernando Pinto