Aporrinhado de querer todo dia
Mexer com a inquietude de alguém
Afinal, eu sou uma pessoa qualquer
Se acaso alguma inspiração vier
Zombo dela, disfarço, mostro desdém
Mudar a rotina, aspirar o meu carro
Lavagem completa, tirar todo o barro
Polindo com cera, tirar toda mancha
Calibro os pneus, reviso o extintor
E já que está insuportável o calor
Ir para a praia de sunga e prancha
Darei uma volta com meu cachorrinho
Coitado do bicho, tá sempre sózinho
Não tem outra vida pior que a de cão
Ou corto a grama passando veneno ,
Pois noutro dia ainda, eu estava lendo
O perigo que é esse tal de escorpião
Quem sabe invente de\'a casa pintar
No fim de ano, vem alguém visitar
Há de querer de ser bem recebido
Troco as telhas ruins do telhado
Pra qu\'eles possam dormir sossegado
Engraxo as portas pra tirar o ruído
Outra idéia é consertar minha pia
Por que toda vez que um pingo caía
Eu pensava, isso vai virar cachoeira
O pé do balcão escorado em tijolo
sempre praguejo se ás vezes esfolo
O dedão do pé na cantoneira
Na geladeira além de\'água gelada
Pedaço de Queijo e marmelada
De frutas, somente maçã e mamão
Forma de gelo que nem quebra mais
No fogão eu nem sei se fecho o gás
Duas bocas funcionam, mas o forno não
Se for na igreja, ninguém me conhece
Nem lembro o dia da última prece
Se foi casamento, ou era Natal
Passeio no parque ou em pescaria
Sequer recordo qual o último dia
Culpo a poesia se sou anti social
Que me perdoem, queridos leitores
Quem achar que hoje falei só horrores
E posso da mente ser doente, tantã
Mas se alguém de vocês acaso atrever
Todas estas coisas minhas fazer
Volto às poesias, logo pela manhã