INEXORÁVEL
Inexorável amor teu
por alguém que já se foi
e que nunca te percebeu:
no teu vagão de sentimentos
guardas tudo que nunca chegaste a usar,
ainda que tenhas tentado.
Para quem?
Com quem?
Se o teu alguém agora já não está mais entre os que gozam a vida.
Insistente amor teu que, de um jeito ou de outro, um dia sempre dirá adeus:
no teu espaço de vazio profundo guardas o que sempre te quiseste livrar.
Para quem?
Com quem?
Se o teu alguém agora só mora dentro do que restou de ti naquele trem...
Dos que se recusam a receber de ti o que quem sempre mereceu não percebeu: no teu vagão de sentimentos desfaleceram pitacos isolados de quem nem sabia o que te dizer direito, mas, sempre fez questão de te dizer alguma coisa — segue a vida firmando-se no que restou de tudo que um dia se foi recusado, e agora de tudo que sobrou, ficou a solidão e a lembrança dos poucos dias felizes que conseguiste viver.