Momento na rua Barão de Itapura
Foi nosso primeiro avistamento.
Vínhamos, em direções opostas, pela varanda que rodeava as salas.
O rapaz abaixou-se para recuperar a caneta que derrubara.
Eu me aproximava, ele interrompeu o impulso de erguer-se.
Era como se houvesse encontrado, em minha face,
uma estrela, um código, um sinal,
que tornasse, tudo o mais, desnecessário e fútil.
Havia certa graça na situação. Infantes, brincávamos de estátuas?
Não nos rimos, a graça era de outra natureza,
benção que transcendia tempos e lugares.
Sem desviar a vista, finalmente endireitou-se.
Mas eu já ficara presa aos seus olhos, àquela gravidade, àquela urgência.
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Um homem e uma mulher se haviam descoberto e reconhecido,
nada mais importava na face da terra.
Néscios que somos, acreditamos abrir nossos caminhos, construr nosso fururo.
Uma caneta cai. Ou não. Um minuto antes. Ou depois.
Tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra...
Azrael passa, com pés de paina, nem um caule balança.
Mas o eixo do mundo se desloca para sempre.