Cecilia

Momento na rua Barão de Itapura

Momento na  rua Barão de Itapura

 

Foi nosso primeiro  avistamento.

 

Vínhamos, em direções opostas, pela varanda que rodeava as salas.  

O rapaz abaixou-se  para recuperar a caneta que derrubara. 

Eu me aproximava,  ele interrompeu o impulso de erguer-se. 

 

  Era como se houvesse  encontrado,  em minha face,

uma estrela, um código, um sinal,

que tornasse,  tudo o mais,  desnecessário e fútil. 

 

 Havia certa graça na situação.   Infantes,  brincávamos de estátuas?

 Não nos rimos,  a graça  era de outra natureza,

benção que  transcendia  tempos e  lugares.

 

   Sem desviar a vista, finalmente endireitou-se.   

Mas eu já ficara presa aos  seus olhos, àquela gravidade, àquela urgência.

´

  Um homem e uma mulher  se haviam descoberto e reconhecido, 

 nada mais importava  na face da terra.

 

Néscios que somos, acreditamos  abrir nossos caminhos, construr nosso fururo.

   

Uma caneta cai.   Ou não.   Um minuto antes.    Ou depois.

Tinha uma pedra no meio do caminho.   Tinha uma pedra...

Azrael passa, com pés de paina, nem um caule balança.

Mas o eixo do mundo se desloca para sempre.