Alexandre Silva

PÉS REVOLTOS

 

PÉS REVOLTOS

 

Palavras minhas que em ti batem

chegam no peito e lá ficam

de arremate suprimindo o orgulho: que de todos nós sentes

as próprias mentiras que te fazem ausente de ti mesmo.

 

Das demandas que a ti chegam

ajuda a nós tu não pedes e

é como se fostes... autossuficiente...

sementes germinam... e tu? Segues!

 

Não te entregas à solidão

das tardes de morbidez e...

nem aos revezes te abraças.

 

[Já achaste o teu viés de completação...? Não? Ele achou depois de três dias]

 

Da comunhão não tomes o pão adormecido e embebecido no líquido do prazer...

Nem tampouco comas o vinho petrificado após um momento de desespero...

Que, em desagravo, desalenta o ninho que antes lhe era tão alvo...

 

Dos que se dizem dignos

de darem um bom resultado:

criem seus filhos primeiro

e, depois, corram para o abraço!

 

— Na escuridão da tormenta

pés revoltos não obedecem

e na madrugada sonolenta

pés revoltos tomam outro rumo.

 

— Lavo os meus pés, que de tanto trabalho sempre recorrem a algum viés, e seguem os seus caminhos cantando:

tecendo palavras aleatórias...

sem buscar significados...

poetizando... apenas, jogando

meras palavras ao vento...

 

que, de repente, se tornam: poesia... quente ou fria,

de verdade, pouco importa, mas, com palavras endereçadas

aos mais diversos corações, tensos ou tranquilos,

sua existência é bem mais valiosa, nisso habita a beleza.

 

— Lava tu, pois, os teus pés revoltos, para que te ajudem nos momentos:

de mais necessidades;

de mais carências;

de mais solidão;

para que (com eles) possas tu correres da depressão.

 

E, de novo, consigas ir voltando aos poucos:

a comer do pão;

e beber do vinho;

originalmente saudáveis à vida.

 

E, sem nenhum “de repente”,

alivies o teu coração

de todo o vazio, tristeza e dor...

 

Tiras também o ódio;

tiras também o rancor;

e, novamente, tentes seguir

vivendo com os teus pés descansados de tanta revolta...