PÉS REVOLTOS
Palavras minhas que em ti batem
chegam no peito e lá ficam
de arremate suprimindo o orgulho: que de todos nós sentes
as próprias mentiras que te fazem ausente de ti mesmo.
Das demandas que a ti chegam
ajuda a nós tu não pedes e
é como se fostes... autossuficiente...
sementes germinam... e tu? Segues!
Não te entregas à solidão
das tardes de morbidez e...
nem aos revezes te abraças.
[Já achaste o teu viés de completação...? Não? Ele achou depois de três dias]
Da comunhão não tomes o pão adormecido e embebecido no líquido do prazer...
Nem tampouco comas o vinho petrificado após um momento de desespero...
Que, em desagravo, desalenta o ninho que antes lhe era tão alvo...
Dos que se dizem dignos
de darem um bom resultado:
criem seus filhos primeiro
e, depois, corram para o abraço!
— Na escuridão da tormenta
pés revoltos não obedecem
e na madrugada sonolenta
pés revoltos tomam outro rumo.
— Lavo os meus pés, que de tanto trabalho sempre recorrem a algum viés, e seguem os seus caminhos cantando:
tecendo palavras aleatórias...
sem buscar significados...
poetizando... apenas, jogando
meras palavras ao vento...
que, de repente, se tornam: poesia... quente ou fria,
de verdade, pouco importa, mas, com palavras endereçadas
aos mais diversos corações, tensos ou tranquilos,
sua existência é bem mais valiosa, nisso habita a beleza.
— Lava tu, pois, os teus pés revoltos, para que te ajudem nos momentos:
de mais necessidades;
de mais carências;
de mais solidão;
para que (com eles) possas tu correres da depressão.
E, de novo, consigas ir voltando aos poucos:
a comer do pão;
e beber do vinho;
originalmente saudáveis à vida.
E, sem nenhum “de repente”,
alivies o teu coração
de todo o vazio, tristeza e dor...
Tiras também o ódio;
tiras também o rancor;
e, novamente, tentes seguir
vivendo com os teus pés descansados de tanta revolta...