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Roniel Oliveira

Eu quero o ânus de Clarice

Rejeito qualquer salvação
que prive meu sexo de agir.
Vou acender as luzes dos cabarés
e enxugar meu rosto em toalhas fétidas
com restos de noites passadas
e suicídios por ocorrer.
Quero um demônio para chamar de meu
e corpos perniciosamente entorpecidos,
foragidos de uma utopia qualquer,
que proporcionem vago esquecimento
ou punhetas sentidas em bancos de praças.

Vejo Mattoso sugando um dedo mendigo
com sua língua farpada
às 5 horas na Avenida Central
Enquanto pastores estupram meus ouvidos
com sua geleia apocalíptica
importada de um ocidente invisível

O inferno são os outros,
mas meu deserto tem ritmo de blues.
Eu quero o ânus de Clarice, ou talvez o ônus;
Quero encher meus pulmões senis
de thinner ou cânhamo
Quero quebrar a tábua da esmeralda
e rasgar os livros sagrados
Quero urinar nos grandes monumentos
E limpar a bunda com decretos ancestrais
Eu não tenho deuses, eu tenho não vozes,
Só tenho meu pau e um velho disco do Ramones.
Afora isso, eu quero o ânus de Clarice.