VAGAROSIDADE
A vida é interessante... Todos querem me ver gritando...
estressado..., mas, logo penso: a vida é realmente muito interessante... Todos correm em busca de alguma coisa enquanto eu(?): escrevo.
Nada é como queremos:
talvez, porque tudo que queiramos,
na verdade, não precisamos ter...
e seguimos a nossa busca cega
por alguma coisa que nos venha
enganar ainda mais..., mas...
dos tantos momentos da vida o que mais me deixa curioso é o tempo...
não que eu não o consiga entender, apenas... (talvez)
me impressione muito facilmente, quem sabe...
Certo dia eu estava na fila de um banco e notei duas situações interessantes, um homem já idoso, e um jovem recém-saído da adolescência: eu de longe observando o mais velho, que esperneava, parecia que estava sofrendo, se mostrava muito preocupado com alguma coisa, apressado: olhava constantemente para o seu relógio de pulso...
— E o jovem?
— Estava tranquilo...
fones de ouvido...
parecia ouvir boas músicas...
ao menos era o que parecia.
— Olhava para relógio?
— Nem isso ele usava!
— Talvez em seu telefone?
— Quando quisesse poderia vê-la em qualquer lugar, sem estresse...
— A sensação temporal é, realmente, surpreendente... Talvez, o idoso tivesse poderes e, de repente, ficou sabendo que depois dalí não teria muito tempo de caminhada, ou, se chegaria a caminhar novamente, vai saber..., mas, o jovem... ah! Esse poderia estar pensando... aliás, pensar pra que se a música estava tão boa?!
A vagarosidade temporal me deixa com medo...
e ao mesmo tempo percebo que
também não uso relógio...
quer dizer... usar pra que?!
Se o máximo que ele poderia me dizer seria (cedo ou tarde eu iria, de qualquer maneira, saber) que: o tempo passou...
Se vagarosamente...
Se rápido demais... vai saber...
Só sei que:
o tempo se vai;
o tempo se foi;
o tempo se esvai...
— Não voltará mais?!
— Não! Não aquele mesmo tempo. Não daquela mesma forma... não! Jamais!
O tempo leva a vida e a deixa em algum lugar... sei lá onde esse “lugar” fica, mas...
eu vi... eu... eu vi o tempo levar... só não sei, de verdade, para onde... só sei que:
levou minha avó;
meu vô também se foi...
— Sei...
— Foi bem depois... não foi um atrás do outro, mas foi por causa da vagarosidade do tempo, da escolha do tempo... que só faz alguma coisa quando lhe apraz...
— Me lembrei de uma tia minha que está em algum lugar fora daqui.
— Uma prima minha também... tão nova... mal havia chegado e logo se foi... encontrar-se do outro lado com todos que já falei... falecidos... vagarosamente conduzidos... e as vidas dos que ficaram precisaram seguir em frente..., mas, sempre dependentes da vagarosidade de um tempo, que só faz o que ele quer e nem se digna a dar uma mínima satisfação, sequer! Na real, ele não tem obrigação: tempo... vagaroso tempo... que rege a vida dos que nascem e coordena a ida dos que se vão... e um pai está, agora, deitado em suas mãos apenas aguardando a sua hora...
— Que este tempo não passe rápido para ele, então... que nele haja lacunas deixadas como escape, e para outros, espero que, como ele, escapem, nem que seja por um triz de uma morte que seria certa..., mas que o tempo... o tempo decidiu prolongar a sua vida um pouco mais...
— Eu fugi dela duas vezes. Isso as que fiquei sabendo, né... escapei... vagarosamente... talvez, nesses dois momentos o tempo devesse ter mais o que fazer e acabou me deixando passar só com poucas sequelas para sempre me lembrar..., mas, insisto: a vagarosidade temporal é surpreendente(...): que sorte de uns;
que dia difícil para outros;
e ele segue passando... passando...
— O tempo é realmente algo muito especial, mas, o “normal” é jamais entendê-lo... assim, enquanto ele “trabalha” em outros lugares vou por aqui fazendo o que eu conseguir fazer com a pouca força que ele me deixou ainda ter: dentro das possibilidades...
Vagarosamente... pois, sei que o tempo, vagaroso ou não, jamais será vencido:
Tempo importante;
Tempo teimoso;
Tempo vagaroso...
que um dia...
sempre!
Passará para todos(!).