O sol queimava a fronte de João,
que embevecido pelo tristonho lamento,
a ladainha sofrida da típica rabeca,
dormia o sono dos séculos
em seu berço de pano,
a rede dos tempos...
Enquanto dormia,
timidamente sorria,
ocultando atrás da boca sem dentes,
o seu pobre sorriso ausente;
típico de um eterno retirante.
Um João de “barriga vazia”,
um João decente,
mais um João que sofria...
Sonhando seu sonho de vida,
rezava ao “Padim Ciço”
tentando saldar sua dívida,
cobrando dos céus alguma dádiva,
sem conseguir aliviar as suas dúvidas,
dúvidas de um João sem dentes,
um “João-ninguém”,
um João descrente...
Tristemente saudando a pobreza,
seguindo sua via-crúcis,
vendo seu Cristo crucificado em cada estação,
cada dia, cada quilometro sofrido
na vida de um pobre João,
carga de um “pirata”, o novo pau de arara...