Victor Severo

Passageiros da noite sem fim.

Perecendo, mumificados, apodrecendo hirtos.

Em uma nave que afunda lentamente na escuridão.

Aglutinados, amotinados, ­­­­­­­­­escravizados, convictos.

À luz de velas, desocupados, traídos pela presunção.

Sobre o instinto natural, lutar e sobreviver.

A esperança que se desmancha.

Demoramos muito para perceber.

O lento caminhar sobre a prancha.

 

Essa ração envenenada que é servida diariamente.

Esses anúncios que entorpecem os sentidos.

Realidade paralela que desidrata nossa mente.

O lixo apelidado de música que apodrece os ouvidos.

Alucinados por consumo, almas sem rumo.

Zumbis viciados, fios desencapados, pobres coitados.

Da confusão a imagem, da torpeza o resumo.

Passageiros da noite sem fim, da luz para sempre desgarrados.