Jose Fernando Pinto

Sete vidas

Quando nasci eu tinha sete vidas, vidas remidas, em outros mundos perdidas, nascidas em mim, para enfim viver. Nasci e perdi uma vida, ficou esquecida na lembrança, na memória de criança lançada ao mundo sem nada saber.


Quando nasci eu tinha sete vidas, vidas sortidas, providas de sonho, da vontade de viver, mas perdi uma vida ao crescer. Aquela vida de alegria, repleta de fantasia que somente a criança sabe sorver. Sete vidas eu possuía, e eu nem sabia que vida eu queria ter.

 

Quando nasci eu tinha sete vidas, vidas perdidas, vidas esquecidas na minha pressa de viver. Cresci e mais uma vida perdi, na ilusão de amar, de ter medo de errar, de tanto me apaixonar. Vidas perdidas no amor, na dor do entardecer, na ousadia dos sonhos, na ausência do amanhecer.


Quando nasci eu tinha sete vidas, vidas de utopia, quimera ou poesia que eu insistia escrever. Tantas vidas eu perdi nos textos que escrevi, nos sonhos que eu sonhava, nos poucos que eu vivi. Vida às vezes injusta, às vezes vazia, desfalcada do mundo, repleta de melancolia.


Quando nasci eu tinha sete vidas, foram ficando pelo caminho, deixando-me sozinho sem ter como resistir. Das vidas que eu possuía, ficaram as lembranças de outrora, amores, derrotas e vitórias, das sete vidas que eu tinha, e apenas uma me sobra agora.

 

Jose Fernando Pinto