Deise Zandoná Flores

Crepúsculo e Aurora


Sei, como se não soubesse,
que os meus dias terminam com a aurora,
quando a Estrela da Manhã me despedaça e cola,
e os segredos, atingidos pelo sol, obscurecem.


Sinto, como se não sentisse,
que as estátuas falam pelos seus simbolismos,
quando os meus arrepios traduzem os artificialismos
dos medos inculcados, como se, fatos, eles existissem.


Eu não existo, sem que me tome por existência.
Eu não consisto, sem que me tome por consistência,
mas o que sou, como sujeito, não sucumbe ao que me é subjetivo.


Porque eu existo, a despeito do que me perceba.
E eu consisto, a despeito do que me esvaneça,
e de todas as minhas vontades de desaparecer.


Porque todo o desaparecimento não é mais que uma raiz no agora;
todo o Crepúsculo não é mais que amante da Aurora;
e não deseja romper-se aquele que não arde do desejo de viver.
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Este poema integra o livro: APOLO: O NASCIMENTO DO ESPÍRITO