Não é preciso uma única faísca
para acender os holofotes lá no céu,
fazer queimar todos os fogos de artifício:
um simulacro de aurora como um véu.
Não é preciso recolher conchas e ostras
para criar ou simular um oceano,
fazer da água mágica ou engano,
retirar o sal, doce afogando-se
no rio que margeia os lábios.
É certo saltar deste navio sem salva-vidas?
E que vida eu teria se não me afogasse?
Se afogada eu já estive em areia fina, de secura
ressequida, antes que a flecha me trespassasse.
E como cortam-me o peito enregelado
os simulacros de facas, de areia, assim moldados!
E como aliviam-me as dores adormecidas
os coletes salva-vidas esquecidos e abandonados!
Dos panos caídos que adornam o corpo,
brotam convites ao mar deleitoso:
que me cure em seu manto, de desejo, ornado!
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Este poema integra o livro: AFRODISIA - DA ESPUMA AO OLIMPO