Deise Zandoná Flores

Depois da Flecha

 

Não é preciso uma única faísca

para acender os holofotes lá no céu,

fazer queimar todos os fogos de artifício:

um simulacro de aurora como um véu.  

 

Não é preciso recolher conchas e ostras

para criar ou simular um oceano,

fazer da água mágica ou engano,

retirar o sal, doce afogando-se

no rio que margeia os lábios.  

 

É certo saltar deste navio sem salva-vidas?

E que vida eu teria se não me afogasse?

Se afogada eu já estive em areia fina, de secura

ressequida, antes que a flecha me trespassasse.  

 

E como cortam-me o peito enregelado

os simulacros de facas, de areia, assim moldados!

E como aliviam-me as dores adormecidas

os coletes salva-vidas esquecidos e abandonados!  

 

Dos panos caídos que adornam o corpo,

brotam convites ao mar deleitoso:

que me cure em seu manto, de desejo, ornado!

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Este poema integra o livro: AFRODISIA - DA ESPUMA AO OLIMPO