Chico Lino

O MOLEQUINHO CANTOR

O MOLEQUINHO CANTOR
Chico Lino

O ar estava úmido naquela manhã
Chovera muito pela madrugada

Viajavam poucas pessoas
De pé naquele ônibus
Que sacolejava o sono de todos

De súbito

Numa parada
Na Rua Real Grandeza

A porta dianteira aberta

Surge um garotinho negro
Bem neguinho para clarear
Aquela plúmbea manhã

Com seus cinco, seis anos
Metidinho num conjunto
Azul marinho, listras brancas

O neguinho discursou
Qualquer coisa sobre o desemprego dos pais
E a necessidade de alimentar
Os irmãos menores

Sorrindo, dentes brilhantes
E os olhos muito vivos

Em tom de aviso, disse
Que se nos cotizássemos
Com cinco \"barões\" pro café
Cantaria uma música
Para que todos
Chegássemos felizes
Como ele no trabalho