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CARTA À MUSA

 

CARTA À MUSA

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Não te irrites, musa amada,

Se estanco a ti meus versos,

Ou se os mando tão dispersos,

Que te deixo acabrunhada;

 

Nem penses que já te esqueço,

Por parecer arredio...

Fica certa: em ti confio,

E o teu amor bem mereço.

 

Se, de ti, ando afastado,

É que tenho razão forte

Que envolve vida e morte,

A manter-me atarefado.

 

Não falo da morte à toa

Que acomete os de má sorte;

Eu falo é de outra morte:

Daquela que n\'alma ecoa

 

Em poemas indigentes,

De poetas da indolência,

Onde, em versos sem cadência,

Rima e metro estão ausentes.

 

Ah! Sem esses componentes,

A alma vai sufocando

E, sem voz, vai definhando

Nas letras inconseqüentes

 

De gente \"nariz pra cima\",

Que se mete a poeta,

Mas que escreve e não completa

Nem sequer um par de rimas.

 

É gente que desconhece

Que\'alma vive de poemas

Bem rimados nos fonemas,

Onde a emoção floresce.

 

Ou gente fazendo graça

Para amizades reles,

Aplaudindo, em URLs,

A poesia em desgraça.

 

Contra isso luto e clamo

E aqui vou pelejando,

Ainda que me afastando

Da musa que tanto amo;

 

Pois, com a alma assim ferida

Pela poesia torta,

Hei de ver-te, musa, morta,

E, sem ti: — Adeus, ó vida.

 

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