Deise Zandoná Flores

Lágrimas de Defeso

Andei chorando lágrimas de vento;
Lágrimas de ar rarefeito:
que brotaram no terreno árido da apatia.
Lágrimas-testa: econômicas e educativas;
Lágrimas-mestra: com fins didáticos e terapêuticos.


Andei chorando lágrimas-terapia;
Lágrimas de função estética:
que me deixaram remoçada e bonita.


Andei chorando lágrimas-deusa:
lágrimas que me adoraram,
que me regalaram oferendas.


Chorei também lágrimas-imortalidade:
lágrimas astutas e ardilosas
que fizeram peripécias com o tempo.


Quando jovem, as lágrimas me envelheciam de niilismo.
Hoje, as lágrimas revitalizam a vontade
e me rejuvenescem de esperança.
Ah! Essas minhas lágrimas opositivas...


Ando chorando lágrimas-saúde;
Lágrimas de limpeza e faxina:
que renovam a sina da minha existência.
Lágrimas de impulsão corajosa,
de comedimento desmedido;
Lágrimas de inocência reeditada.


Ando chorando lágrimas de defeso;
Lágrimas de interdição à apatia;
Lágrimas-escudo contra a pífia sensibilidade;
Lágrimas-esteio da libertação corpórea.


Ainda há muitas lágrimas para chorar nesta vida!
As minhas lágrimas, que são tão combativas,
lágrimas-aceitação das incoerências,
são lágrimas que se recusam a secar e a me ver morta.

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Este poema integra o livro HADES: ENTRE MORTOS E ESQUECIDOS, à venda na Amazon:
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