Hébron

Grande família

 

Há pouco tempo, ao final de um inverno brando, neste atípico 2020, na antevéspera do feriado em que se comemora a fictícia independência do Brasil, fui morar em um novo lar, quintal bastante amplo, esperando cuidados, esperando plantio do chão, com bastante espaço.

Quando me mudei, minha casa já estava desenvolvida nos toques e retoques dos amigos artesãos da construção civil, porém ainda inacabada, mas já seria meu sagrado abrigo, idealizado e construído com o esforço de toda a família com bastante suor, calos e sonhos...

A casa seria pequenina, mas tornou-se árvore um pouco mais frondosa, cumprindo o ideal que me inspira, satisfazendo também os anseios daqueles que são meus afetos mais próximos, a minha mulher e cada um dos meus filhos.

Mas a edificação que se constitui meu lar tem a aura da simplicidade, com bastante originalidade, onde a luz do dia irradia toda à vontade em todos os cantos e recantos, sentindo-se verdadeiramente em casa, com toda intimidade.

Mas a edificação que é meu lar acolhe igualmente as brisas, é refúgio de barulhos do mato e de alguns insetos que insistem em também comigo dividir intimidade, mas é dever meu trabalhar os limites para se evitar inconveniências, promover uma política de boa vizinhança, ainda que besouros, grilos, cigarras, formigas e outros visitantes façam-se de desentendidos...

Poderiam esses pequeninos seguir o exemplo dos pássaros, que preservam a distância conveniente, frequentam apenas meu terreiro, com a única indiscrição - que em nada me incomoda, ao contrário, muito aprecio - dos cantos muitas vezes até estridentes.

Todavia, mas, no entanto, contudo, porém, não vou apresentar a edificação que constitui meu lar, não era essa minha pretensão, simplesmente queria destacar uma curiosidade, o que quero dizer é que minha família de repente ganhou novos integrantes.

Para desilusão de Zack Wiliam, pudemos buscar o Otto, um garoto pastor alemão levado e brincalhão, branco com caprichosas manchas em leve ocre nos contornos superiores das pontiagudas orelhas e ponta da cauda. Um visual altivo e elegante de rara beleza.

O menino pastor já esperava para vir morar conosco há tempos, desde os três meses, mas precisou esperar o quintal grande. Veio para casa com oito meses, sendo recebido com muito carinho por todos, menos pelo Zack...

Zack com seu ciúme exagerado, rebeldia e caráter possessivo não aceitava, mas conseguimos contornar o conflito com algumas concessões e habilidades de mediação, contemporizando e suavizando o clima hostil, aproveitando um pouco da minha experiência profissional.

Mas os desafios não param por aí: por ter muito quintal, buscamos o Minus (derivação de Minúsculo) pequeno vira-lata já adulto, negro de pelo curto, orelhas longas estendidas horizontalmente, com formato parecendo as de elfos, dos desenhos ou filmes, inteligentíssimo e obediente, hiperativo e muito marrento. Gosta de uma briga com os outros cães e com o Zack. E encara qualquer tamanho como adversário.

E buscamos em seguida a Criola, vira-lata de porte médio, pelagem negra e curta, dócil, já com uns 7 anos. Ela é da paz, e os cachorros dão-se muito bem com ela, que impõe com sutilidade respeito. E o Zack também gosta dela.

A Criola agora é tratada também por Criola Augusta, de tão doce, com um carisma diferenciado e sossegada, podia entrar dentro de casa. Ela até chegou a dormir no quarto, mas hoje divide as dependências da improvisada casa dos cachorros, juntamente com os outros cães, Otto e o Minus.

Minus foi praticamente criado como filho da Criola Augusta, que convivia com ele junto ao seu anterior tutor desde quando era uma pequenina criança carente de colo e proteção.

Como se não bastasse, e francamente espero que seja o basta, veio morar junto de nós o intrépido e irreverente Guerreiro. Um pastor alemão capa preta de 1 ano de idade.

Guerreiro já era conhecido do Otto dos treinamentos que faziam juntos, mas nunca foram amigos até então. Inclusive cultivaram algumas rusgas.

A chegada do Guerreino em nossa casa é bastante recente, precisou inicialmente ficar preso na corrente, assim como o Otto e o Minus, evitando-se brigas. A Criola Augusta ficou solta, entre o quintal e as dependências da casa. O Zack não se opôs à presença dela dentro de casa, facilitando o processo de adaptação.

Ainda assim, com tanto cuidado, tivemos algum entrevero que gerou preocupação.

Agora o Guerreiro já vive solto junto com os demais, apesar de não totalmente integrado, ainda não aceitou a nova realidade de convivência comunitária.

Não temos convicção sobre seu futuro conosco, mas seja qual for o destino, terá o acolhimento de cuidado e amor no seio da nossa família enquanto aqui estiver.

Estamos em fase de adaptação ao nosso novo lar, que carece de acabamento e várias melhorias físicas, e também estamos nos adaptando ao convívio com a vizinhança de toda natureza e com os novos integrantes da família.

E a vida vai nos dando essa contínua oportunidade de mudança e transformação, de realização e integração, restando-me agradecer sempre e continuar a fazer de cada dia um motivo a mais para novas bênçãos.

Ah! O Zack não gosta de ser tratado como cachorro, e às vezes acho que nem cachorro ele é! Ele tem certeza que não...