07 de março, 2020
Larissa S. C.
Minha Construção de Gênero
Nasci no estado da Bahia, numa cidade do interior denominada T. F. mas até o início dos meus onze anos morei numa cidade vizinha. Cresci em um lar conturbado, na época não entendia a causa, mas ao decorrer do tempo eu me questionava. Não gostava de ver e ouvir todas aquelas coisas pois me incomodava. A sociedade me assustava. A única coisa que queria é que não acontecesse mais determinadas situações por onde eu passava. Não me sentia feliz, me faltava algo o qual na época não sabia o que era. O tempo foi passando e fui entendendo que sou uma menina e tenho coisas específicas que meninas (mulheres) podem fazer diferentes do que os meninos (homens). “Isso é coisa de menina e isso é coisa de menino”. “Menina não pode brincar com menino”. “Menina não pode brincar de carrinho nem jogar bola.”. “Não pode sentar de pernas abertas”. “É feio menina gritar”. “Isso não é atitude de menina”. “Ele está com raiva, fica quieta, ele é mais forte que você”. “Você é doce, meiga, toda mulher é.” “Mulher é mais delicada”. Será? Percebi que tínhamos e ainda temos papéis diferentes na sociedade e às vezes não me sinto confortável por saber que muitos deles ainda, são em decorrência às falácias, causando às vezes em mim medo, revolta e ansiedade. A revolta veio a partir do momento que fui compreendendo o que significavam aquelas frases, os argumentos e ações impostos a mim. O medo é devido à falta de segurança que a sociedade me causa por ser mulher. A ansiedade, peso que senti aumentando em mim.
Hoje sou uma mulher mais segura, ainda não como realmente quero, mas com mais força, discernimento e um pouco mais de sabedoria para tomar minhas decisões mais consciente e de uma maneira mais saudável e independente. Portanto, eu caso se, ou quando eu quiser. Tenho filhos se, quantos ou quando eu quiser. Cozinho para homem, ou para quem for, se e quando eu quiser. Uso essa roupa porque eu quero, se você não gosta ou está incomodo (a), o problema é seu. Deixo meu cabelo do jeito que eu me sentir à vontade e não do jeito que homem, ou quem seja, prefere. Continuo sendo linda assim mesmo, “muito magra” e “muito branca”. Engordo se eu quiser e se for por questão de saúde ou quando der. Tomo sol para “pegar uma corzinha” e ficar bronzeada se eu quiser. Me depilo porque eu gosto e não porque você quer. Vou usar essa cor de maquiagem sim. Escolhi o curso de psicologia porque eu quero e amo... mas não porque alguém me obrigou ou porque tenho “cara de psicóloga”. Eu trabalho sim, e na área que eu quiser. “Não tenho que arrumar a casa sozinha convivendo com homens no mesmo ambiente, só porque “é coisa de mulher”. Não vou viver em um relacionamento abusivo, não vou ficar “quieta para não apanhar, e ouvir desaforo de homem”. Não tenho que aceitar determinadas atitudes de homens ou seja lá quem for e ficar quieta para não dá “razão” para o abuso físico, psicológico, sexual, financeiro ou moral.
Aprendi a respeitar a opinião alheia mesmo não apoiando todas ações que observo. Não devo concordar com todas as pessoas e fazer o mesmo que elas querem se também não for vontade minha e, vice-versa. Afinal todos nós estamos no mesmo “barco”. E todo ser humano está desconstruindo pensamentos e ações impostos por outros a si.? A sociedade é repleta de leis, regras, princípios e padrões a serem seguidos, seja pela sociedade como um todo ou por grupos menores que estamos inseridos ou escolhemos fazer parte. Cada indivíduo com sua subjetividade e experiências vai em busca do que se sente mais à vontade em seguir e/ ou em impor novos modelos. Sou uma mulher com muito orgulho e tenho o livre-arbítrio de me expressar e agir, assim como qualquer outro ser humano também tem. Muito prazer, meu nome é Larissa!
Larissa S. C.