PARALELOS
No centro, domingo ao meio dia, em plena pandemia
deserta a Rua Imperador Dom Pedro II
sem comércio, nem vida aparente, caindo aos pedaços,
povoada com os mesmos indigentes de sempre,
que se multiplicam, crescem vertiginosamente,
dificultando o tráfego dos poucos carros que passam.
Os automóveis que se aproximam trazem auxílios parcos:
uma comida quente, uma garrafa d’água, um gesto de solidariedade.
Nas filas, homens, mulheres, crianças, velhos desdentados
que sobrevivem embaixo das marquises, dormem nas entradas das igrejas,
habitam as portas dos palácios, as calçadas de suas excelências.
No Recife, Bairro de Santo Antônio, São José e adjacências
onde o socialismo grassa e inflama os discursos
convivem no mesmo espaço,
mas em planos absolutamente diferentes,
os excluídos, os mendigos, as hordas de desempregados, à margem do mundo,
e a nata do funcionalismo público, plenos de privilégios, cheios de si e de autoridade,
desfrutando de subsídios e vencimentos altíssimos,
quase sempre acima do teto constitucionalmente estabelecido,
que percebem sem qualquer constrangimento,
embora repitam em todos os pronunciamentos
que defendem as leis, os mais pobres e os mais necessitados.
Numa cidade e no Estado
onde grande parte dos privilegiados vive do dinheiro público
e luta para manter o status quo do passado
não há vírus, pandemia, peste nem praga
que os faça perceber que estamos todos no mesmo barco
e que a atitude inconstitucional
resulta no caos travestido de Estado Democrático.
Pedro Domício
06/04/2020