Pedro Domicio

PARALELOS

PARALELOS

 

No centro, domingo ao meio dia, em plena pandemia

deserta a Rua Imperador Dom Pedro II

sem comércio, nem vida aparente, caindo aos pedaços,

povoada com os mesmos indigentes de sempre,

que se multiplicam, crescem vertiginosamente,

dificultando o tráfego dos poucos carros que passam.

 

Os automóveis que se aproximam trazem auxílios parcos:

uma comida quente, uma garrafa d’água, um gesto de solidariedade.

Nas filas, homens, mulheres, crianças, velhos desdentados

que sobrevivem embaixo das marquises, dormem nas entradas das igrejas,

habitam as portas dos palácios, as calçadas de suas excelências.

 

No Recife, Bairro de Santo Antônio, São José e adjacências

onde o socialismo grassa e inflama os discursos

convivem no mesmo espaço,

mas em planos absolutamente diferentes,

os excluídos, os mendigos, as hordas de desempregados, à margem do mundo,

e a nata do funcionalismo público, plenos de privilégios, cheios de si e de autoridade,

desfrutando de subsídios e vencimentos altíssimos,

quase sempre acima do teto constitucionalmente estabelecido,

que percebem sem qualquer constrangimento,

embora repitam em todos os pronunciamentos

que defendem as leis, os mais pobres e os mais necessitados.

 

Numa cidade e no Estado

onde grande parte dos privilegiados vive do dinheiro público

e luta para manter o status quo do passado

não há vírus, pandemia, peste nem praga

que os faça perceber que estamos todos no mesmo barco

e que a atitude inconstitucional

resulta no caos travestido de Estado Democrático.

 

Pedro Domício

06/04/2020