*Apelo a um Candelabro*
E esse sofrido Valpolicella?
Quantas palavras ouviu?
Quantos segredos?
Quantas confissões de amor? Quantos murmúrios?
Quantas músicas cantou?
embora baixinho, já que a sua voz estivera abafada por tantas lembranças derretidas, transformadas em sonhos,
em beijos, em quimeras mil?
Não, não fales mais, Valpolicella!
Assim eu te imploro.
Não te atrevas a contar tudo o que ouvires.
Reserva-te aos dias mais inspirados, às noites mais ardentes,
aos desejos mais inconfessáveis.
Valpolicella, já não te pertences, sois parte de nós.
Até que amanheça.
Paulo
Iguatú-Ceará
Terra de Eleazar de Carvalho
06 de novembro de 2020.
É, pois, no teu mutismo
Que não guardo remorsos
Vives de remanso
Em teu rótulo flavo
Onde cai as lágrimas do tempo
Cria-se vida
Oh Lampadário
Meus sonhos embebidos
Nos teus também já vividos
Inda recordar ao sacar a bucha
Que sobrou do que antes era sobro
Ensombrado sobreiro
Vi o galgar da travessia
Anos, ciclos, datas, minutos, segundos
Hoje mudo
Outro mundo
Cinco décadas depois
Demoradamente esperei
Amarone Della Valpolicella
Vi encontros e desencontros
Vi o teu nu desarmado
À espera dela
Vê-la vela
Se não podes mais contar
Nem mesmo soprar o assobio
Distante e levado pelo vento
Veneto só
Esmagadas uvas
Passadas feito o meu terno velho
Agora estás tu
Feito um candelabro
E tua roupa velha de velas
Lagrimejam a te aquecer
Fica vida
Inda que sem sua alma
Já degustada pelos convivas
Se não falas
Não te calas
Pois tua história
E tua memória
Revive inda perto
Juliano aprimorado
Gregoriano renovado
A escapar nas escarpas
Do tempo que se foi
Marzo Maia
Maiestas
Hoje noviembre
E as lágrimas pálidas
Abraçam teu ventre.
Vive-se!
Passa tempo!
E a mesma luz que chama
É a mesma que some
Amarone!
Roberio Motta
Seis de 9vembro de um tal de Vinte Vinte.
Juazeiro do Norte, Estado de Graça do CARIRI.
(Em resposta ao verso do amigo-irmão Paulo, Candelabro feito em um Amarone degustado em 26 de maio de 2020).