Chico Lino

EU, CIBORGUE

EU, CIBORGUE
Chico Lino

Tive infância

Sem televisores
Vídeo-games ou brinquedos
Da Estrêla

Inventava carrinhos
De carretéis de linha
De costura

Uma lata de leite em pó vazia
Puxada por cordão
Inundava de alegria
Levava longe a imaginação

Ouvia \"O Direito de Nascer\"
Em um rádio PHILIPS

Achei que fosse
o gaúcho Teixerinha
Em pessoa quem cantava

\"Coração de Luto\"

Dentro de uma Kombi
No escaldante calor Colatinense

Quando menino
Antes de ouvir falar no sul-africano
Cristian Barnard

Criei esquete:

Um homem acordava
Colocava um coração
(era um cofre de moedas em estilizado coração)
No peito

Depois a peruca
A dentadura
As pernas
O braço
Os olhos
Os óculos

Saia para \"ganhar a vida\"

Sinto-me um inventor
De coisas inventadas

Pensei em óculos limpadores
De gotas de chuva

Tempos depois
Uma revista exibia um
Só que para neve

Grandes verdades
Certezas pétreas
Os Ismos
Esboroam-se no ar

Um leão
De dente implantado
Volta a caçar

A manipulação genética
Cria ninhadas de ratas
A partir de células tronco
De duas ratinhas

O macho
Torna-se obsoleto

Chips fazem cego enxergar
Tetraplégico passeia

Somos todos obsoletos

Há um Manifesto Ciborgue
Existe uma Filosofia Ciborgue
Cogita-se um Futuro Pós-humano
E A Morte da Morte

Randômico
É muito mais que adjetivo