Elfrans Silva

O ANEL DE SÃO JOÃO

Na festa junina, popular folguedo
era alta a fogueira que me metia medo
e piorava quando  estouravam o rojão
no meio do povo, assustado enveredo
fazendo o sinal da cruz e do credo
Cuidando das brasas caídas no chão

A molecada disparavam o torpedo
pra toda criança é só um brinquedo
e logo vem outro de taquara na mão.
Aquele que sabe, ao outro ensina
com papel seda, jornal, ou cartolina,
mesmo de pano se constrói um balão

Só eu me encontrava ainda enlerde
pegando as espigas de milho verde
joguei-as no fogo em meio ao tição;
enquanto olhava subir a fumaça
eis que é notável um vulto que passa,
quase pela boca sai o meu coração .

Vestido comprido e quadriculado
olhos brilhantes, bem rebocados
pintas de lápis e um forte batom;
Cabelo em tranças de ambos os lados
ficamos se olhando, embasbacados
e o milho queimando virando carvão.

Não bebia ainda, o suco do vinhedo
mas paralisado igual um rochedo
tremia os joelhos, fiquei sem ação;
ela, sorrindo, me fez um arremedo,
quando calçou, folgado, em meu dedo
o anel do casório da tradição.

Vestiu-se de noiva entre o arvoredo
pediu qu\'eu guardasse aquele segredo
e seriam só nossas as recordações ;
Deixei-me levar em ardente desejo
fizemos promessa, selando com beijo
enquanto no céu explodiam rojões.

Tomando cuidados, quase me excedo
uma vez mais, em boneco, me quedo
pra não ir muito além da tentação;
Num gesto cauto assim me sucedo
antes que tudo causasse levedo
corri á frente dela desviando a atenção.

Santo Antônio, são João e São Pedro
aos pés dos Santos eu me apiedo
pedindo por nós total proteção;
Sómente Deus sabe,  o nosso segredo
levo comigo, apertado em meu dedo
o anel de casado da festa de São João