Fazes tanta força para demonstrar que amas.
Tantas afetações para se mostrar do bem.
Que esqueces da fome que em tua porta clama.
Do choro e sofrimento dos que nada tem.
Sonhas com o paraíso de mil gozos e deleites.
Com um deus forjado à tua imagem e semelhança.
Sendo incapaz de saciar com carinho e leite.
Sequer a boca faminta de uma pobre criança.
Defendes com afinco o mito da verdade.
Persegues com insultos quem não se assemelha.
Aquele que não comunga de tua castidade.
Ou para tua santidade não se ajoelha.
Já ver-se apossado da terra prometida.
Já se dizendo parte dos santos escolhidos.
Mesmo desprezando aqueles a quem esmaga a vida.
Ignorando sempre a dor dos oprimidos.
E no recanto santo de tua devoção.
No templo abençoado do teu egoísmo.
Investes tão somente em tua salvação.
Rastejando para um céu, sepulto em um abismo.