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Marcellus Augusto

O quarto escuro da existĂȘncia

Tenho a sensação que estou perdido, 

Perdido na vida, na existência, nos princípios e nas ideias, 

Parece que nada me alegra, 

Não tenho paciência para assistir o meu time de futebol, 

Não tenho o tesão para as leituras dos meus livros, 

Nem as músicas que eu gostava, conseguem me emocionar. 

Não sei o que ocorre, me pego fazendo coisas que jamais pensaria em fazer, 

No meio de tanta coisa que faço, algumas delas tenho vergonha de falar e pensar, 

Faço-as escondidas no meu quarto, com a porta trancada, janelas fechadas e a luz apagada, 

Não com medo de ser pego, mas com vergonha de me olhar fazendo o que faço,

E com a vergonha do que faço, me escondo no meu próprio mundo, no medo de encarar a realidade.

Criei o meu próprio calvário e agora não consigo sair mais dele, 

A motivação que eu tinha, agora acabou, 

A expectativa que eu carregava, se tornou em frustração, 

Os anos se passam, acaba um e entra outro, mas nada muda. 

Os meus erros e falhas continuam, 

O meu olhar cinza da vida permanece, 

A minha oração nunca é respondida,

Vou todos os domingos para Igreja, mas a única voz que eu escuto é o silêncio de Deus, 

Sei que Deus fala pelo silêncio, mas eu, agora, queria escutar um grito do Divino, 

Eu queria escutar a voz de Deus na esquina da minha casa, 

Ou na boca de uma pessoa desconhecida, 

Ou na vida de alguém especial que aparecesse, 

Ou diretamente me dizendo que sou alguma coisa. 

Estou desfalecido como nunca estive, 

Traído, sem dúvidas, traído como nunca imaginei, 

Destruído como nunca pensei, 

A única coisa que tenho forças é  para esperar um dia passar depois do outro. 

Escondo-me na arte, no escrever, no pensar e falar, 

Na poesia, que é a mãe que me pariu sem pai, 

Porque não tive nenhum poeta que me inspirasse, pois sou leigo, 

Nem irmão, pois não tive ninguém que me ajudasse no amadurecimento das ideias poéticas,

E como um filho nascido fora do tempo, nasci fazendo poemas, ainda que eles não sejam os melhores. 

Cresço nas minhas fracas palavras e me torno rico na minha pobreza existencial, 

Vou me formando em cada poema que escrevo, 

Deixando um pouco de mim em cada palavra, verso e rima, 

Refazendo os meus cacos,

E procurando a regeneração interior que tanto desejo, 

Que no final de tudo, eu possa acordar de manhã, abrir as minhas janelas, deixa o sol entrar, 

Limpar as poeiras, acender a luz, deixar a porta aberta do meu quarto e não temer quem sou, não esconder a minha cara, 

Nem imaginar uma vida que não tenho, por causa das frustrações da realidade, saber que a existência é difícil, mas ela exige preparo para aproveitar cada momento, 

E o meu, sim, ele vai chegar!