Marçal de Oliveira Huoya

Vidros

Quebrou 
E bem quebrado 
Estilhaços de vidro 
Despedaçados 
Atirou no chão violentamente 
Mas sem raiva
Ou cabeça quente
Quebrou deliberadamente 
Sem pena, com crueldade 
Para que não consertassem novamente 
Bateu a porta com vontade 
Queimou as caravelas 
E a sensibilidade 
Trancou as janelas 
Nem luz nas frestas 
Nada passou a claridade
Destruiu pontes e possibilidades 
Para evitar remorso ou arrependimento 
E se lançou na festa 
Sem receios ou responsabilidades
Sem constrangimentos
Só prazeres e divertimentos
Dormindo de manhã cedo
Acordando bem tarde 
Na esperança do esquecimento 
Sufocando a saudade
Fez o que foi necessário 
Nem mais nem menos
Nem adeus e nem acenos
Incinerou o relicário 
Mas nem sorriu e nem chorou 
Como se achasse amor na feira
Meia dúzia ou dúzia inteira
Daí desdenhar o amor
Mas amor é ave, 
Bicho imortal
Fênix que de cinza não tem nada
Ressuscita no final
Queima enquanto bole 
Sangra para ser lembrada 
E quando do sono é despertada 
Não há nada que console 
E mesmo que cole
A mágica já foi quebrada...