Quebrou
E bem quebrado
Estilhaços de vidro
Despedaçados
Atirou no chão violentamente
Mas sem raiva
Ou cabeça quente
Quebrou deliberadamente
Sem pena, com crueldade
Para que não consertassem novamente
Bateu a porta com vontade
Queimou as caravelas
E a sensibilidade
Trancou as janelas
Nem luz nas frestas
Nada passou a claridade
Destruiu pontes e possibilidades
Para evitar remorso ou arrependimento
E se lançou na festa
Sem receios ou responsabilidades
Sem constrangimentos
Só prazeres e divertimentos
Dormindo de manhã cedo
Acordando bem tarde
Na esperança do esquecimento
Sufocando a saudade
Fez o que foi necessário
Nem mais nem menos
Nem adeus e nem acenos
Incinerou o relicário
Mas nem sorriu e nem chorou
Como se achasse amor na feira
Meia dúzia ou dúzia inteira
Daí desdenhar o amor
Mas amor é ave,
Bicho imortal
Fênix que de cinza não tem nada
Ressuscita no final
Queima enquanto bole
Sangra para ser lembrada
E quando do sono é despertada
Não há nada que console
E mesmo que cole
A mágica já foi quebrada...