Por deveras me deixei escurecer;
Fascinava-me aquela falta de luz;
Tão luminosa;
Era onde me encontrava;
E onde me perdia;
Havia se tornado meu penates.
Nas poucas vezes que a cor me tocara;
Parecia estranho;
Não era pra mim;
Não poderia ser;
Eu era escuro, a cor não faria bem...
Mas era bom, me sentia vivo!
Algo que também era estranho;
Nunca me sentira daquele jeito;
Vivo!
Minhas quatro paredes eram família;
E o álcool meu irmão;
Todos mergulhados no meu vazio.
Eu gostava, tinha apenas aquilo;
Ou ao menos me convencia disso;
O trabalho me ofuscava;
A escrita era o que amava;
Muito mais que qualquer um que conheci;
Ela me compreendia.
E permitia-me transparecer aquele belo escuro;
Ela ouvia e adorava, minhas historias, contos e poemas;
Dentre todos meus problemas, brigas e pensamentos autocidas;
Ela me socorria;
Sem julgamentos, apenas ouvidoria;
Se pudesse pedi-la em casamento, eu o faria.
Apaixonei-me;
Meu escuro e os ouvidos dela;
Arriscaria dizer, se completavam mais que cama quente e costas frias.
Se precisar definir;
O papel era minha esposa, a caneta nosso filho;
E o computador minha amante.
Havia me encontrado;
Talvez cedo, já que tinha apenas dezesseis;
E meu escuro era perfeito;
Escrita, quarto profundo, café e pensamentos suicidas;
Estava perfeito;
Chegava a hora de partir.
Não me peça para definir;
Eu mesmo não conseguiria;
A vontade apenas me consumiu;
Parecia pronto;
Já tinha até mesmo pedido perdão ao meu deus;
Pelo ato de fraqueza.
Tomei de minha bela pia de mármore;
Laminas de barbear;
Fechei os olhos e meu escuro estava ali;
Meu grande amor;
Clamando para caminhar a ele.
Nada tiraria de mim o frio e doce beijo do vazio;
Cortei meu pulso esquerdo;
Foi libertador;
Meu amor vinha em minha direção;
E escorria-me nos olhos a emoção de telo tão perto;
Começou a correr sorrindo;
E parou de repente, mudando para uma triste feição;
Rápido demais pensei, deixe chegar a mim antes de partir;
Queria sentir;
E sentia algo, o calor;
Não gostei, porque calor?
Queria o frio, e meu escuro abraçado comigo;
Abri os olhos encharcados, e vi a luz me iluminando por completo;
Era o sol;
Adentrou minha janela do banheiro e aqueceu-me;
Não vi mais meu amoroso escuro naquele dia;
Fiquei com meu pulso cortado, apreciando a melhor luz que tivera;
E minha vida havia parado de pingar;
Preencheu-me!
Tentei resistir e levantar;
Eu era escuro;
Mas a cor me fazia tão bem;
Sentia-me único;
Capaz de levantar um prédio nos braços;
E o escuro já não me chamava mais;
O calor e a luz me mostraram coisas;
Mostraram amigos que não suportariam me ver num esquife;
A família que secretamente demonstrada me amar;
Dos lugares que ainda veria.
E mostrou todos os amores que ainda viveria;
Pela segunda vez me encontrei;
Senti meu coração bater pela primeira vez;
Aquilo...
Aquilo era meu vicio;
Aquele calor;
Aquela luz;
Mais que qualquer droga que experimentei, a vida me excitava.
Alucinava-me e relaxava-me ao mesmo tempo;
Saciava-me e deixava insaciável;
Não há forma de explicar;
Poderia dizer, somente quem já morreu pode decifrar;
A sensação de experimentar a vida pela primeira vez;
E garanto que se a fizessem, veriam o quão viciante é;
Não permita escurecer-se;
A escuridão é o pior dos egoístas;
Ela arranca seu brilho;
E o priva de ver o de qualquer outro que não seja dela;
Eu me apaixonei, e até hoje me balança o peito fechar os olhos;
E ter de vê-la;
Porém o bom amor não é o mais amável;
É o que mais te permite amar;
Conquistar;
E conhecer;
Seus olhos precisam ver, a deslumbrante maravilha que você construirá.
Eu amo a vida, pelo que ela é, pelo que ela me faz ser e pelo que ela me faz ver.
Gabriel Candido