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Alberto Neto

Qual o sabor do vento?

Eu queria ter mais cabelos brancos
acumulando a sabedoria dos anos
neve que se junta numa ampulheta
soterrando minha juventude

Que se muta esquecida na gaveta
ao lado de pertences antes cobiçados
presentes de aniversário aguardados,
acreditei ter me tornado mais sábio

Mas as minhas memórias reluzem
em um brilho prateado dos talheres
utilizados nos almoços de família

Bem que eu queria apenas celebrar
mas as guerras estavam lá
temperos amargos misturados
com ervas tão adocicadas
o vento levanta esse cheiro
em uma fumaça de devaneio

Não posso me atrever a esquecer
dos invernos e também verões
repletos de incontáveis lições
convívio com meus entes queridos
alienação paralisa meu coração