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Elfrans Silva

A MENINA DA AMARELINHA

sobre essa mureta me sento
te encontro dentro de mim
brincando no meu pensamento
Olhando os riscos no chão
do diagrama em linhas
te vejo com giz branco na mão
refazendo a amarelinha

À tarde chegavas da escola
cadernos e lápis guardava
eu dava um fim na sacola
nenhum de nós se atrasava
Os dez quadrados do jogo
com número em cada casinha
o Céu desenhado no topo
deixava linda a amarelinha.

Você era quem começava
prendia o cabelo com fita
vestindo uma saia plissada
com ares de senhorita
O tamanco de veludo vermelho
e no queixo uma rasa covinha
alguns arranhões no joelho
das quedas na amarelinha

Antes que se levantasse
oferecia e te  dava consolo
até que as dores passasse
apoiava a cabeça em meu colo
Era um eterno momento
que só nossa vida continha
nosso universo era dentro
das casas da amarelinha

Assim foi nossa adolescência
em cada tarde vivida
sem limites, na nossa inocência, 
nem toda paixão é contida
E num dia o indomável desejo
com todo o amor que eu tinha
nasceu o nosso primeiro beijo
no azul do céu da amarelinha

Esse mágico e doce encanto
muitas vezes se repetiu
não foi além do sonho infanto
pois que a vida não permitiu
Se entregamos ao tempo  presente
mas o futuro ninguém adivinha
hoje estou só,  e à minha frente
apenas os riscos da amarelinha

O contorno fraco dos riscos
os números aos poucos sumindo
o azul celeste onde fito
parece que ainda sentindo
a ternura das sensações
indizíveis nessas quadrinhas
o amor de dois corações
inspirados pela amarelinha

Olho, sem jeito os traços
comparo a sua lembrança
te vejo ainda em meus braços
mesmo estando à distância
Na mente  tenho viva e forte,
em contraste com essas linhas,
quem jurei amar até a morte
brincando com ela de amarelinha

Não sei se um dia hás de voltar
caso repense no tempo futuro
poderás ainda me encontrar
à tua espera sentado no muro
Só d\'uma coisa tenha certeza
passa o tempo, o riscado definha
ainda que me cause muita tristeza
lembrarei de ti e da amarelinha