Ema Machado

Óleo no mar...

Óleo no mar...

 

Lendo o passado, o que ficou escrito, marcas do que foi apagado. Nunca antes o li na íntegra, e no entanto, constantemente o tenho analisado.

Páginas desfilam pela lupa do pensamento. Agora entendo... Sempre foi ele, o culpado, levando-me por despenhadeiros sombrios do pecado.  Quis fugir, fui ao inferno, vesti armadura de guerra, batalha árdua, em céus e terra. Tudo inútil, venceu-me, sucumbi. Nunca mais fui a mesma, depois que naqueles braços caí...

O conheci no meio da tarde, quando pensava ter nas mãos a felicidade, porém, estava de passagem, sempre fugiu de mim. Vivia no deserto, e ela, era apenas miragem.

Ele era tudo, e nada. Tudo o que precisava, e nada com que eu deveria sonhar. As manhãs tornaram-se noite, sonhava acordada. Cada olhar que recebia, era água destilada, deslizando pela pele sedenta e a cada dia a sede aumentava. Lembro-me do instante em que bebi da fonte, dela, nunca pude sair...

Era um mar de promessas, naufraguei, tentei seguir, encontrar outro porto, no entanto em mar profundo mergulhei. Sabíamos, não era nosso aquele momento. Roubávamos o tempo. Não era nossa a história - a tatuamos na pele, sem sequer avaliar que se tornariam chagas. Nunca parariam de sangrar...

As paredes assistiram a batalhas, guardavam a energia emanada. O aroma de absinto pairava no ar. Não haveria vencedor, era uma batalha sem propósito, cada um se entregava à fúria do corpo.

O tempo encarregou-se de separar água e óleo. A água misturou-se ao mar, enquanto o óleo, flutua, ninguém conseguiu envasar...