Um sofrer de alegria, alívio do pranto
Quando me prendo no entoar do seu canto
Toca-me a emoção, aguça-me o sentimento
Esse sofrer que não é um lamento
É voz da natureza, causa exaltação
Nas asas e nas cores do corrupião
Sofrimento da ganância de lucros marginais
Por nossas florestas que tombam em brasas
Nessa perversa ciranda que tanto devasta
Dizima a mata e mata, mata muitos animais
Mas a vida é maior, revive o que se arrasou
Traz a esperança qual rolinha fogo-apagou
Em tom que enfeita a tela em moldura
Num azul bonito que se camufla no céu
E sua musicalidade fazendo escarcéu
É sinfonia sublime harmoniosa ventura
Encanto de melodias em compasso
Como é belo, belo canto do sanhaço
Reverbera a ansiedade que se assevera
Repetindo o marcado ponto de toda a espera
Num breve porvir, hino do que se procrastinou
Mas demora insistindo: \"amanhã eu vou\"
E pela escuridão do agora e do quando
Persevera a promessa do canto o curiango
Quem sabe podendo encontrar
Nos acordes, no dedilhado ou bordão
Em versos de frases o refrão
Naquele que sabe me encantar
Eu diria, mas não disse se sabia ou se saberá
Nesse mais belo canto, o cantar do sabiá
A sábia prudência é sua marca
Nos caminhos se arisca, não se arrisca
No mato, remanso, brejo, na mata
Esconde-se, lépida se encorisca
Na saúde do seu canto em retoques
Saravá, saracura três potes
Voo indiscreto, alvo e carmezim
Colorido em tom da beleza
Ornamento da mãe natureza
Nas campinas fazendo festim
Recitando em cantos o madrigal
Mejestoso e altivo cardeal
De pouso delicado e voo ligeiro
Para no ar, rota de plano traçado
Átimo de um tempo abençoado
Visita de delicadeza por onde for
Toque de carinho, beijo passageiro
Encanta e me arrebata o beija-flor
Mas com gosto, com muito prazer
Desde o agora ou no tenro alvorecer
Encantos ouço, ouço em canto
Melodioso enamoro, elaborado cortejo
Exalando à flor da pele um íntimo desejo
Bem-te-vi, bem-te-quis e quero-te tanto