Olhando os trilhos que seguem
lado a lado, a mesma direção
ainda hoje, confesso, me ferem,
cúmplices de certa traição.
Lembro bem o dia e a hora
do embarque no primeiro vagão;
O soar do apito estridente,
do trem a levar-te, cruelmente,
e o vazio que deixou o meu coração.
Fragrâncias, do ar, na primavera,
traz desejos, na saudade, então
Esta dor causada por longa espera,
e morrer cedo, sinto a sensação.
O jardim que cultivamos belas rosas
florescia na magia da paixão
Dos brotinhos , mudas e sementes,
raízes se firmando fortemente
davam vida ao meu pobre coração.
Me recordo do sol despontando,
das fortes chuvas nas tardes de verão
Era um sonho ao irmos caminhando
no mundo afora, segurando tua mão.
Quando noite, em meus braços encostavas
embalando-te cantava uma canção
Madrugadas que não posso esquecer
sob um manto de estrelas, adormecer
no meu peito, ouvindo o coração.
De repente, surpreendido me entristeço,
atônito , incrédulo, olhos ao chão
As florzinhas, uma a uma reconheço,
É outono, perdem as forças, lá se vão.
Eu quisera mudar tudo em seus destinos
Aves, flores , cachoeiras, ribeirão...
Nada disto há muito tempo faz sentido,
pesadelos sem sequer haver dormido,
guardo o pranto no fundo do coração.
Busco um canto, um motivo, um espaço
um abrigo, um carinho e compaixão
Pois o frio rigoroso sem teu abraço
traz o inverno aumentando a solidão.
Ao sentir no corpo rígido castigo
de estar só, caminhar na contramão...
Olhando ao longe num vago pensamento
peço á Deus que ao menos num momento
tu te lembres que é só teu meu coração.
Venho aqui, entre risos e prantos
alimentando uma doce ilusão
Deste banco vez por outra me levanto
para olhar dentro de cada vagão.
Vai outono, vem e vai a primavera,
Chega inverno, chega e vai mais um verão
Enquanto a vida que resta eu tiver
esperarei tanto quanto que puder
que volte um dia quem levou meu coração.