Nelson de Medeiros

POBRE POEMA

POBRE POEMA

 

Eu queria escrever um poema,

De rimas ricas onde o amor por tema,

Na sutil forma métrica se ajustasse;

Que fosse arauto do esplendor da natureza,

Qual mensageiro de celeste realeza,

E todo o bem do mundo retratasse...

 

Que a saudade se inserida, com certeza,

Não fosse um canto de nostálgica tristeza

E nem a fúnebre revolta ressoasse;

Mas ao contrário, em melodia harmoniosa,

Qual sinfonia alvissareira, auspiciosa,

Todo o esplendor da vida emoldurasse...

 

Que a amargura, essa eterna companheira,

Fosse versada como a sombra passageira

E não marcasse com tamanha intensidade...

Que a tristeza de um imenso amor perdido,

Soasse em notas de um cantar enternecido

E não vibrasse com as rimas da saudade...

 

Eu queria escrever um poema,

De rimas ricas onde o amor por tema,

Não me lembrasse a realidade desta dor...

Mas quem sou eu para fazer tal poesia,

Se dentro d\'alma desde o berço eu já trazia,

Toda a amargura da saudade deste amor...